As direitas andam bastante descoroçoadas com o que o futuro próximo lhes promete: não sendo Cristas mais do que voluntariosa candidata a puxar o seu partido para algo mais do que a lotação de um táxi e olhando para os dois candidatos à sucessão de Passos Coelho como anunciados perdedores na pugna eleitoral de 2019, nem sequer os afetos presidenciais lhes poderão valer. Para que lhes servirá uma megapopularidade se ela se revelar inútil perante a prossecução da agenda ideológica das esquerdas para a próxima década? O próprio Marcelo deverá sentir-se de mãos atadas perante a inconsequência dos generais com que contaria para passar do frustrante papel de «corta-fitas» para o de um efetivo estratega na definição das políticas económicas e financeiras do país de forma a beneficiarem quem sempre tem estado na origem das suas preocupações - a Igreja e a alta burguesia.
Marina Costa Lobo, uma das diletas comentadoras desse eixo ideológico lamenta que uma eventual vitória de Santana Lopes equivalha à continuação da travessia do deserto, e Rui Rio já cuidou de aterrorizar os próprios apoiantes quando, nas jornadas parlamentares de Braga, afirmou-se disposto a fazer “igual ou pior” do que Maria Luís Albuquerque acaso se visse em idêntica situação.
Consequência de tudo isso é os jornais afetos a Belém - e muito ativos a maldizerem António Costa nas últimas semanas - voltarem a defender a necessidade da reaproximação entre presidente e primeiro-ministro, assumindo-se na lógica do pau, que vai e vem, mas permite descansar as costas no entretanto.
Bom será que as esquerdas tenham aprendido as lições passadas, quando se viram inapelavelmente derrotadas, sempre que apostaram na postura sectária entre si. É por isso animador que um dos grandes responsáveis pela derrota do PEC IV em 2011 - Francisco Louçã - surja a sugerir aquilo que muito desejam quase todos os eleitores da atual maioria parlamentar: a consolidação dos acordos de 2015, eventualmente aprofundando-os com uma maior corresponsabilização de forma a garantir uma determinada transformação progressista do país. Porque, se bem sucedida como esperamos, serão todos eles a saírem beneficiados sempre que os portugueses forem a votos.
Na crónica do «Público» diz o antigo líder do Bloco e atual conselheiro de Estado: “Nas próximas legislativas, a haver novo acordo de convergência, ele terá de responder já não à emergência da salvação do país depois da troika, mas antes a um projeto económico e social para o longo prazo em que sejam enfrentadas a ganância dos mercados e as dificuldades europeias. Ora, para isso, será necessário mobilizar todas as forças disponíveis: essa política de que Portugal precisa não pode abdicar do contributo do Bloco e do PCP. Instigar um jogo de um contra o outro seria um tiro no pé. Então, se uma maioria absoluta levaria o PS para a sua velha política, a exclusão de algum dos partidos de esquerda inviabilizaria uma política forte. Se essa for a música, a valsa de 2019 dança-se mesmo a três.”
Que se dance efetivamente a três - ou mesmo a quatro (se considerarmos os Verdes), e até a cinco (se se integrar o PAN) - conquanto o crescimento seja uma realidade capaz de beneficiar os que se viram seriamente preteridos na distribuição da riqueza nacional de há muitos anos a esta parte...
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