Já o tinha aqui escrito e reescrito, mas nunca é de mais recordá-lo: se queremos saber dos estados de alma de Marcelo relativamente ao governo e aos sinais a transmitir ao eleitorado não poderemos prescindir das peças jornalísticas assinadas por Ângela Silva na edição semanal do «Expresso». Quer pelo que através dela se publicita - e convenhamos ser fonte bem mais fiável do que o «criativo» Marques Mendes - quer pelo que deixa implícito para nós podermos conjeturar, essa leitura é sempre imprescindível..
Que Marcelo continua incomodado com esta maioria governativa, não estranhamos! Ele bem gostaria de a substituir pelo Bloco Central dos interesses económicos, que sempre foram seus clientes bem pagantes nos muitos estudos que, ao longo dos anos, lhe encomendaram. Ora se há mácula de que podemos dispensar o selfieman é que ele não seja agradecido aos que lhe foram engordando as contas bancárias.
Por isso, se os patrões vão a Bruxelas fazer queixa do governo, que dizem secundarizar-lhes as pretensões no Orçamento para 2018, Marcelo dá-lhes música para os ouvidos prometendo alongar-se na análise do documento a fim de o limar de quanto lhe pareça «excessivamente de esquerda».
Arrisca-se, porém, a repetir o erro de Passos Coelho, mesmo que não seja tão veemente na promessa da chegada do Diabo: embora sob a forma de recados para o governo - mas que destina sobretudo ao eleitorado enquanto recetor principal - alerta para uma estratégia governativa focalizada na potenciação do consumo interno, não dando o devido ênfase ao investimento e às exportações.
Sabendo-se que tem a acolitá-lo um conjunto vasto de assessores especializados nas várias vertentes do exercício do poder estranha-se que esteja a proferir sentenças que, a curto prazo, se virarão contra si, não só porque o Portugal 2020 tenderá a acelerar os indicadores relativos ao investimento e ao crescimento da economia, mas também porque, entrando em velocidade de cruzeiro, a produção do novo modelo da Autoeuropa propiciará uma dopagem significativa nos números das exportações.
Colocando-nos na pele de quem analisa friamente a atividade política o interesse dos tempos próximos consistirá em saber por quanto tempo resultará uma magistratura de influência política apenas baseada nos abraços e nas selfies. Quando a determinada ação governativa resultar numa adesão ainda mais significativa do eleitorado a tais resultados será interessante saber se Marcelo quererá ir a jogo para um segundo mandato. A vaidade poderá impulsioná-lo para essa hipótese, mesmo sabendo que se limitará ao papel de «corta-fitas». Mas se o objetivo seria o de suscitar uma firme guinada à direita na política nacional as circunstâncias podem aconselhar-lhe que espere sentado...
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