Durante mais uns dias prosseguirá a narrativa a respeito de se ver o governo à deriva, reagindo mais do que a tomar a iniciativa, e com vários dos seus membros a contradizerem-se sem que se chegue a concluir qual a posição prevalecente.
Arguto como poucos, o ministro Eduardo Cabrita prevê que este momentâneo desconforto dure até dia 27, quando ficar concluída a discussão do Orçamento na especialidade. A partir de então, pesem embora as reivindicações corporativas de várias classes profissionais, todas saberão que a vontade de tudo conquistarem de um dia para o outro esbarrará com a realidade dos números maioritariamente aprovados pela maioria parlamentar.
João Cravinho considerou que esta fase menos boa do Governo teve origem nos incêndios: até então toda a argumentação da Oposição esbarrava inevitavelmente no anúncio contínuo de indicadores económicos, financeiros e sociais, que a refutavam sem apelo nem agravo. Ademais o selfieman aproveitou esta oportunidade para confirmar a deslealdade como característica intrínseca do seu carácter e entrou numa ofensiva para a qual não encontrou a esperada ajuda das circunstâncias (apesar da tragédia de 15 de outubro!) nem a vaga de fundo de cariz populista que pudesse surfar a seu gosto. Recorde-se o fracasso das célebres manifestações convocadas pela SIC durante dias a fio para várias cidades do país e saldadas por algumas pífias concentrações de dezenas, quanto muito centenas de apaniguados das direitas.
Por muito que não possamos conjeturar o que lhe passa pela mente, será que Marcelo não terá alimentado a expetativa de se ver livre desta maioria que detesta, obrigando António Costa a atirar a toalha para o chão e surgir uma recomposição política em torno do seu ideal de Bloco Central, com a direita a comandar e os socialistas a servirem-lhe de chaperon? Nunca o saberemos, mas se a hipótese merecer algum crédito convenhamos que ele soube meter a viola no saco e esperar por melhor oportunidade para tocar o seu samba de uma nota só.
Daqui a alguns dias entramos no período natalício em que ninguém terá paciência para discutir as tricas políticas da única forma que as direitas apreciam: com intrigas e falsificações pelo meio.
Comem-se as filhós e o bolo-rei, bebe-se o espumante com as passas enquanto se vê o fogo-de-artifício e eis-nos mergulhados no primeiro semestre, onde tudo aponta para a manutenção de um crescimento robusto na economia e para uma significativa redução no défice. Com a maioritária sensação de um país a funcionar bem, que restará ás direitas senão acomodarem-se uma vez mais à inconsequência das suas repetitivas estratégias?
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