Eu sei que sou otimista, às vezes em excesso, mas a efeméride relativa à passagem de dois anos sobre a tomada de posse deste governo confirma o quanto faz sentido aquela máxima «soixantehuitarde», que manda ser realista pedindo o impossível. Conquanto ele corresponda à aproximação da Utopia, que faz sentido sempre acarinharmos dentro de nós mesmos.
Não há a ilusão de estarmos à beira da sociedade socialista, pois o capitalismo tem encontrado engenho bastante para ir adiando tanto quanto possível este estado quase bipolar entre o anunciado fim e a recuperação para novo sobressalto de criação de novas malfeitorias. Mas não tendo ainda direito ao prémio todo, contentemo-nos, por ora, com a sua aproximação.
Sei que há dois anos muitos dos meus amigos tinham sérias reservas quanto à possibilidade de a desqualificada «geringonça» se aguentar até ao primeiro vendaval, que a arrancasse da frágil raiz em que assentava. Os escritos aí estão para o comprovar, mas só deixo um extrato do que aqui registei em 24 de novembro de 2015:
“Ao conseguir um desempenho de grande mérito e eficácia, o novo governo irá condenar a direita a uma longa e merecida travessia no deserto, que talvez lhe sirva para se reinventar à luz do que o pensamento académico nas áreas económicas já vem progressivamente demonstrando, mas ela ainda não interiorizou: o fracasso das receitas neoliberais em que é dada aos mercados a máxima liberdade e ao Estado um papel ínfimo na criação de condições de crescimento económico.
Se a crise financeira de 2008 aproveitou essencialmente a quem a tinha originado já é mais do que tempo de pôr fim ao esbulho da classe média e à condenação à morte dos mais pobres, voltando a criar políticas orientadas para quem elas deveriam ser sempre prioritárias: as pessoas.”
O que entretanto aconteceu confirma esse desejo, exceto no que diz respeito às direitas, que nada continuam a aprender com o sucedido.
Reitero, pois, uma grande confiança neste governo por muito que os órgãos de comunicação social insistam em empolar-lhe os deméritos e contradições. E por muito que ajam sempre no sentido de quererem dividir para reinar como subjaz ao título de primeira página do «Expresso» desta semana.
Existe uma tão grande vontade da maioria dos portugueses em que esta receita perdure e frutifique, que aposto na tal longa travessia do deserto das direitas por mais uns bons anos...
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