Tenho que dar razão a Francisco Louçã quanto a notar-se algum nervosismo do governo de António Costa por causa do sucesso das direitas por, através das redes sociais, conseguirem transformar em casos de primeira linha de discussão pública aqueles que nunca deveriam colher maior relevância do que quantos interessam verdadeiramente aos portugueses: os que melhor poderão servir para darem satisfação às suas aspirações.
Ver o Ministro da Saúde pedir desculpa aos portugueses por algo em que não teve qualquer responsabilidade, fragiliza-o de imediato perante todas aquelas quotidianas infeções contraídas em ambientes hospitalares por doentes em quem já não surtem efeito os antibióticos atualmente existentes e que causam mortes cuja contabilização será notícia de primeira página se os donos dos jornais e os seus títereiros quiserem ir por aí.
O Governo tem de ser firme na defesa da sua honra não permitindo que um vil xavier venha indignar-se com o feto, que ele próprio gerou, como se culpado viesse a ser quem com a criança nos braços ficou. Ou que um qualquer adolfo venha indignar-se com o tratamento da memória da Nação, quando pertenceu a um governo, que cuidou de eliminar feriados particularmente significativos para saudar esse passado.
A firmeza do Governo deveria passar pela denúncia das políticas sinistras na área da Cultura e da preservação do Património, que serviram de alibi para a intenção de tudo privatizar, de expulsar o Estado de tudo quanto ainda lhe cabia cuidar. Porque, cultores dos valores das revistas cor-de-rosa, interessava-lhes muito mais a pompa dos eventos para tais espaços organizados do que os sentimentos potencialmente desenvolvidos por uma política séria e consequente de enaltecimento do Património em causa.
Essa tenacidade governativa também deve orientar-se para a confrontação direta das direitas com as suas contradições: que achar de um CDS, que tanto acarinhou o esvaziamento da escola pública em proveito das privadas e agora, não lhe chegando tudo quanto tem sido investido na Educação nos últimos dois anos, ainda vem vestir-se de hábitos que nunca foram os seus, exigindo imediata gratuitidade dos manuais escolares do ensino secundário?
Que Mário Nogueira e a Fenprof queiram dar prova de vida com uma greve destinada a emitir retórica ruidosa em torno de um caderno reivindicativo irrealista - que em boa verdade nunca tiveram coragem bastante para exigirem ao anterior governo - ainda se percebe. Que as direitas, através dos seus sindicatos, se lhes colem, é apenas sintomático quanto ao que mais agora lhes interessa: queimar o mais possível uma terra, que se adivinha potencialmente verdejante.
Para lidar com uns e com outros será bom que alguns ministros mais canhestros na comunicação serenem-se com urgência: contra quem lhes tenta multiplicar rasteiras convirá que as encarem com frieza para nelas não tropeçarem...
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