Yánis Varoufakis esteve na linha da frente da crise grega. Entre janeiro e julho de 2015, enquanto foi o ministro das Finanças do governo de Alexis Tsipras, recusou o plano de austeridade que a troika quis impor ao seu país. Depois de demitir-se fundou o Movimento para a Democracia na Europa (o DIEM25), afirmando atualmente que a «versão oficial» segundo a qual a economia grega está a melhorar em nada coincide com a realidade.
O seu recém-publicado «Conversas entre adultos. Nos bastidores secretos da Europa» convida o leitor para os meandros menos óbvios das políticas europeias, descrevendo-os com a loquacidade dos «lançadores de alertas» (os whistleblowers), que denunciam os comportamentos de instituições apostadas em funcionarem contra os interesses do bem coletivo.
Uma das surpresas maiores, que Varoufakis começou por constatar no funcionamento do Eurogrupo foi a ausência de qualquer registo escrito, tipo ata, do que ali se discutia em circuito fechado. Era-lhe evidente que essa conduta tinha muito a ver com os procedimentos típicos de Estados autoritários. Ilegítima e ilógica, a eurozona acabou por ser a verdadeira responsável pela crise financeira que, a partir do fusível disparado do outro lado do Atlântico com os subprimes e a falência do Lehman Brothers, afetou significativamente os Estados do sul do continente.
A bancarrota grega de 2010 começou por suscitar em Angela Merkel e Nicolas Sarkozy a decisão de darem prioridade à salvaguarda dos interesses dos bancos dos respetivos países mais expostos à imprevisibilidade dessas circunstâncias. O empréstimo de uma enorme soma de dinheiro serviu para o pagamento das dívidas a tais bancos, tendo como contraponto a imposição de uma violenta austeridade sobre quem pouco ou nada influíra nessa bancarrota.
Sete anos passados sobre esse despoletar dos acontecimentos, a Grécia continua imersa numa terrível depressão económica.
Na sua denúncia ele considera uma tragédia, que a Europa tenha governos democraticamente eleitos, mas cujas estratégias económicas e financeiras são decididas por um órgão supranacional, em quem ninguém votou e atuando sem qualquer escrutínio de quem quer que seja. Daí que a crise financeira, tenha desembocado numa crise política na qual se agudizou a falta de confiança da maioria dos cidadãos europeus nas instituições sedeadas em Bruxelas ou em Frankfurt.
Num dos exemplos lapidares do tipo de comportamento chantagista de Schäuble ou Dijsselbloem, aconteceu-lhe, ao terceiro dia de reuniões com esses interlocutores, ver-se ameaçado de encerramento compulsivo dos bancos gregos no final desse mês se insistisse em não acatar o programa anteriormente negociado com o governo direitista da Nova Democracia.
Uma das propostas inovadoras, que insere neste livro tem a ver coma réplica na Europa do sistema de senhas alimentares distribuídas anualmente nos EUA aos seus cidadãos mais pobres e assinadas pela presidente do Banco Federal. Satisfazendo as necessidades básicas de 15% da população norte-americana, esses apoios sociais comportam um custo anual de 61 milhões de dólares.
Daí que, comparando com os 230 mil milhões de euros já «emprestados» à Grécia, algo de semelhante a nível europeu, devidamente validado com a assinatura de Mario Draghi, suscitaria a recuperação do entusiasmo pelos ideais europeístas em quem assim saísse beneficiado na Grécia, na Alemanha, na França, em Portugal e em qualquer outro país da União dos 27. Bastaria a seu ver que o Banco Central Europeu investisse em senhas alimentares os lucros recolhidos com os juros do dinheiro emprestado aos países em dificuldades.
Desassombrado na divulgação das suas opiniões, Varoufakis promete manter-se como um dos mais ativos defensores de políticas alternativas e mais decentes para uma Europa ainda enfeudada aos piores estigmas do mal afamado neoliberalismo.
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