Espero que a atual crise com a legionella não suscite nas direitas o habitual coro histérico em que procuram culpar o governo pelas mortes e afetados por tão perigosa bactéria.
Durante toda a minha vida profissional fui responsável por equipas de manutenção, que tinham por objetivo, entre a enorme carga de trabalho quotidiano, garantir que este tipo de situações não se verificasse. Quer a bordo dos muitos navios, mormente os de cruzeiros, em que fui responsável por toda a maquinaria destinada à propulsão e ao conforto de passageiros e tripulantes, quer enquanto diretor de uma empresa incumbida de assegurar essa mesma operacionalidade e bem estar em muitíssimos edifícios, entre os quais emblemáticos centros comerciais, grandes fábricas e salas de cinema por todo o país, a prevenção deste tipo de perigos sempre esteve na primeira linha das preocupações. E assim age a grande maioria dos profissionais de engenharia, que assumem esse tipo de funções.
Para evitar o tipo de problemas como o agora verificado em Lisboa há só um requisito: cumprir um escrupuloso programa de manutenção, que inclui a limpeza de tabuleiros de condensados e das grelhas dos sistemas de refrigeração e ar condicionado. Felizmente, ao longo de todo o meu percurso profissional, nunca tive um único caso de legionella. Mas posso afiançar que fui afortunado, sobretudo porque foram muitas as vezes em que assinei contratos que, no início, recebiam de herança situações calamitosas, que poderiam no hiato entre a receção das instalações e as primeiras intervenções ter causado essas lastimáveis consequências.
Poderão os partidos de direita vir relacionar estes casos de saúde pública com suborçamentos nos custos operacionais dos hospitais? Poderão, mas não cabe ao governo inspecionar as instalações de cada edifício público e assegurar que todos eles cumprem a legislação referente à sua boa manutenção. A culpa cabe às administrações e às direções de cada um desses edifícios que nunca poderão descurar a prioridade que esta sua área de responsabilidade exige.
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