Há muitas multinacionais detestáveis na vocação predadora das riquezas naturais que, legitimamente, deveriam pertencer a toda a Humanidade. Abocanhando-as em nome dos seus obscenos lucros, privam as populações do usufruto coletivo do que lhes pertenceria por direito.
A Nestlé é um exemplo paradigmático dessa falta de escrúpulos ao empenhar-se na desenfreada exploração das nascentes de aquíferos de todos os continentes com o objetivo de os engarrafar e vendê-los como se se tratassem de mercadorias como quaisquer outras.
A filosofia de tal estratégia partiu de um dos administradores da empresa, Helmut Maucher, que atribuía a organizações “extremistas” a tese de ser a água um bem coletivo. Nos últimos anos os efeitos da usurpação desse recurso natural em vários locais do planeta revelam bem o carácter extorsionário da multinacional.
Por exemplo em Chaffee County, nas Montanhas Rochosas, onde os recursos hídricos já eram escassos para o consumo das populações e a rega das explorações agrícolas, a Nestlé comprou uma quinta estrategicamente situada por cima do lençol freático, começando a bombeá-lo para as suas instalações de engarrafamento e rotulagem. Gastando 2 cêntimos pela extração de cada galão de água, a Nestlé consegue-o vender por 10 dólares, obtendo um lucro descomunal. Ao mesmo tempo, a região onde passou a sugar essa riqueza, viu agravada a aridez do solo, o definhamento da agricultura e a falta de água nas torneiras.
A sinistra Fox News apresentou o modelo empresarial da Nestlé como admirável, incensando o presidente da filial norte-americana, Kim Jeffery, como autêntico herói empresarial, por conseguir resultados de gestão inigualáveis. Não admira que os principais porta-vozes de Trump se sintam tão encantados com esta forma de ter sucesso nos negócios.
Na África do Sul uma grande parte da população não tem acesso a água potável nem a saneamento básico. Em 2011 a Nestlé instalou-se em Doornkloof, perto de Pretória, para explorar a nascente do seu subsolo, podendo dela retirar 103 milhões de litros por ano até 2031. E, no entanto, as populações ali residentes, e até seus próprios funcionários, não têm acesso a tal recurso, a que por direito deveriam aceder sem custos.
No Brasil o parque de São Lourenço em Minas Gerais é outro bom exemplo de predação da Nestlé, que já reduziu significativamente a dimensão do lençol freático, anteriormente ao serviço da população. Agora os lagos de cujas nascentes a multinacional continua a sugar a água com que enche as garrafas apresenta-se poluído, contaminado, com uma quantidade preocupante de matérias fecais.
Existe ainda outra vertente da atividade da Nestlé, que não pode ser esquecida: recentemente foi declarada culpada no tribunal de Lausanne por espionagem da atividade de Frederick Franklin, um militante da ATTAC particularmente empenhado em denunciar as práticas da empresa. Esse tipo de comportamento mafioso estende-se a outros países, como o Brasil ou a Colômbia, onde os seus inimigos incorrem em sério risco de vida, porque a facilidade com que aí se contratam assassinos a soldo facilita a eliminação de quem lute para que a água seja um recurso de todos e para todos.
Há muito se sabe que, a caminho do esgotamento de muitos outros recursos naturais, a água passará a estar na mira das multinacionais, que louvam os méritos da sua privatização. O combate contra essa perspetiva estará na linha da frente das reivindicações das esquerdas por um mundo melhor.
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