A perplexidade manifestada por António Costa ao comentar a preocupação de Passos Coelho com a escusa à nomeação de alguns amigos de Teodora Cardoso e de Carlos Costa para as instituições, que ainda dirigem, só existe retoricamente e até constitui argumento eficaz para sugerir o que não pode dizer preto no branco: que o líder da oposição sempre teve, tem e terá da Política uma visão minúscula, cingida à questão de estar ou não na posse do «pote».
Para Passos Coelho não está em questão a procura da satisfação do interesse público. Por isso mesmo não lhe causou nenhum estado de alma a privatização dos CTT, da TAP ou a entrega de empresas, que nunca deveriam ter saído da alçada estatal para interesses estrangeiros. Conquanto conseguisse em troca a colocação dos seus Catrogas, nada mais interessava.
Sem pensamento político próprio, Passos «compra» as fórmulas, os modelos, que lhe vão soprando aos ouvidos e, tão só se ajustem aos objetivos pessoais, deles nunca se dissocia. Apesar de tantas evidências em contrário nunca lhe passará pela mente dissociar-se de axiomas martelados anos a fio por tais ventríloquos, que dele têm garantido passivo boneco, e dão a iniciativa privada como superior á pública ou só haver crescimento de emprego se se pagar menos e sonegarem direitos a quem trabalha.
A recusa em abandonar a liderança do partido, apesar do afundamento nas sondagens, só se explica por ser esse o emprego, que vislumbra possível até chegar à reforma. No íntimo nunca deixou de ser o arrivista, que conseguiu chegar bem mais alto do que justificariam as capacidades e competências e agora se angustia com o expectável trambolhão.
Nos debates parlamentares não consegue pensar em soluções alternativas, que ajudem a melhorar a governação socialista e lhe permitam incrementar a qualidade de vida dos cidadãos. Para ele tudo continua a resumir-se a cargos, que se possam abocanhar.
Que interessa o crescimento da economia e do emprego confirmado no aumento das receitas do IVA e da Segurança Social? Que importa a evolução muito positiva do excedente primário a possibilitar maior otimismo na alavancagem do investimento público? Que importam os animadores sinais das exportações?
Passos chegou armado em queixinhas ao debate parlamentar. Como se os portugueses se inquietem com quem Teodora ou Carlos Costa pretendam ter ao lado para lhes confirmarem os reiterados preconceitos, alimentados contra o governo desde a primeira hora.
Pensemos só num dos casos mais flagrantes: Teresa Ter-Minassian. Como pode julgar-se independente quem, nas mais recônditas curvas do ADN, traz a perspetiva do FMI, cujos danos na economia mundial se saldaram em tantas tragédias coletivas? Independente de quê? Independente de quem?
Compreende-se que Passos Coelho ou Teodora Cardoso gostassem de a ter no Conselho das Finanças Públicas: esgotados todos os argumentos políticos e económicos contra as políticas de Mário Centeno, julgariam ter nela uma espécie de Einstein capaz de lhes inventar novas e contundentes fórmulas, propícias a colorido spinning desinformativo.
Enganam-se: com argúcia e paciência, António Costa vai deixando Passos, Teodora e Carlos Costa a lamberem as frustrações avinagradas pela inconsequência do que vão intentando. Cada vez mais atolados no deserto em que se perderam...
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