Durante um par de anos estive na Comissão de Trabalhadores de uma das grandes empresas nacionais e pertenço há vários anos à direção do meu Sindicato. Se por um lado posso ser suspeito pelo que irei aqui escrever, por outro lado essa condição de membro ativo em organizações representativas dos trabalhadores dão-me particular conhecimento da importância que possa existir na sua participação na vida das empresas, como ocorre nos países nórdicos.
O estudo agora divulgado, que coloca Portugal na cauda da Europa quanto ao reconhecimento desse diálogo permanente entre o patronato e os trabalhadores constitui motivo de vergonha, sinónimo do nosso subdesenvolvimento social. Sobretudo tendo em conta como a situação era a oposta nos finais dos anos 70, inícios dos anos 80. E explica, igualmente, porque se atingiram tais níveis de precariedade e a negação quase total de direitos fundamentais dos que vendem a sua força de trabalho.
A participação dos trabalhadores na vida das empresas não tem apenas a ver com a discussão dos salários e regalias, mas também com a Higiene e a Segurança dos ambientes laborais ou a formação contínua mais ajustada para produzir efeitos positivos na rentabilidade da empresa. E caso contássemos com empresários inteligentes, poderia significar importante fator de motivação e de inovação, com resultados significativos na produtividade e competitividade das empresas. Muitas vezes as melhores ideias para a otimização dos recursos investidos nos processos produtivos são sugeridas por quem com eles lida no dia-a-dia.
Pagamos, pois, o preço da guerra intensa que os patrões têm desenvolvido contra os sindicatos e outras estruturas representativas de quem trabalha e de que se constituíram procuradores quase todos os governos nos últimos quarenta anos. Não só como vingança dos sustos que sentiram em 1974 e 1975, quando foram saneados e viram as suas empresas nacionalizadas, mas também por ser nesse clima de hostilização e opressão de quem trabalha que entendem aplicar o método mais eficiente para manter as confederações sindicais no estado lamentável em que elas se converteram, ora servindo de mera ferramenta a um partido político, ora vivendo das lentilhas propiciadas pela função de sempre comprometerem os objetivos das lutas de quem trabalha. Tivessem sido desafiadas para uma permanente discussão em torno da contratação coletiva e da legislação laboral, seria possível à CGTP e à UGT cristalizarem-se na indigência de estratégias, que têm revelado há tantos anos?
Nos próximos anos precisamos que os patrões aprendam alguma coisa com os seus parceiros europeus quanto à necessidade de tornar democráticos os ambientes laborais. E que as organizações sindicais e as comissões de trabalhadores tenham por objetivo a defesa dos postos de trabalho e a maximização das regalias e remunerações, que os não ponham em causa.
Quanto às confederações deveriam estar particularmente ativas no estudo das soluções inerentes a uma redução previsível do volume dos empregos numa sociedade em que os robôs e os algoritmos vão ganhando uma importância crescente na produção das mercadorias e serviços transacionáveis...
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