Lá temos finalmente as sondagens a acertarem: os resultados da eleição francesa apurados esta noite resultaram num confronto entre Emmanuel Macron e Marine Le Pen na segunda volta.
É claro que os lobos solitários, que se inspiram no Daesh para tentarem criar cenários de guerra na atualidade francesa, estarão a esta hora a congeminar onde, quando e como poderão ter sucesso nos seus objetivos nos próximos quinze dias. Mas a eficiência da polícia gaulesa tem sido tal que confiemos na forte probabilidade de não conseguirem o êxito pretendido.
Em tal situação, e porventura por diferença menor do que foi a de Chirac com o pai Le Pen, Marine será amplamente derrotada daqui a quinze dias. E terá de regressar à ostracizada condição de pária com quem nenhuma outra força política se pretende consorciar.
É, pois, crível que nas legislativas subsequentes, a relação de forças entre as direitas e as esquerdas repliquem a verificada no anterior quinquénio, com predomínio das segundas. É que, sendo a eleição feita por circunscrição a duas voltas, a soma dos votos de Melanchon, Macron e de pelo menos metade dos de Macron bastarão para vencer os que votaram agora em Fillon e noutros ajuramentados da direita, que dele se dissociaram logo nesta primeira volta.
A dificuldade será para Macron gerir uma maioria de esquerdas, sobretudo com o PS a contas com a redefinição da sua linha estratégica. Ou Valls e uns quantos envergonhados com a sigla saem e formam um novo partido - mas com quem irão concertar votos? Com o PS virado mais à esquerda? Com os apoiantes de Mélanchon, que nem os querem cheirar por perto? Ou com a direita em cuja direção tendem a aproximar-se a olhos vistos? - ou dificilmente o futuro presidente encontrará quem esteja disposto a dar-lhe maioria suficiente para executar o seu programa político.
Mas será que Macron o tem? Todo o seu percurso do último ano, quando se demitiu do governo de Valls e começou a preparar a campanha não indiciou qualquer visão consistente quanto ao que pretende para a França. A ideia de conjugar o que de melhor têm as direitas e as esquerdas não significa absolutamente nada. Por isso, se o mandato de Hollande terá sido o de uma precoce deceção, o de Macron arrisca idêntica apreciação.
Esperemos que os socialistas entendam a mensagem dada pelas urnas esta noite e saibam reinventar-se de forma a acabarem com essa coisa espúria de andarem a fazer o jeito a quem ideologicamente se situa no campo contrário. Porque o resultado pode ser a pasokização de que Hamon terá sido injusta vítima.
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