1. O relatório produzido pelo Grupo de Trabalho promovido pelo Partido Socialista e pelo Bloco de Esquerda para estudar alternativas ao sufoco financeiro, hoje vivido com a dívida soberana, é um excelente documento com propostas concretas e exequíveis, que não poem em causa os compromissos com os parceiros europeus.
Nunca deixando de realçar a necessidade de um acordo a nível da União Europeia, que abandone os preconceitos de Schäuble e seus seguidores, o Relatório propõe melhorias tangíveis a nível de o,2% do PIB apenas com outra política de dividendos por parte do Banco de Portugal e de maturidades nos juros das várias tranches da dívida pelo Tesouro.
Noutras circunstâncias políticas, porventura exequíveis a médio prazo, o Grupo considera possível o pagamento da dívida sem qualquer corte, mas com uma maturidade a 45 anos e com 1% de juros.
Até lá manter-se-á a situação de um agravamento da situação, porque apenas com um excedente primário acima de 4,1% é que ela se começaria a infletir. Ora o histórico da evolução das economias ocidentais raramente assinalou essa possibilidade como exceção: por regra, mesmo quando o saldo entre receitas e despesas é positivo, mal ascende acima do zero.
2. Numa aula que foi dar ao Colégio Moderno Marcelo Rebelo de Sousa ufanou-se de chamar a atenção a António Costa sobre o seu irritante otimismo alegando a «autoridade da experiência».
Autoridade da experiência? Teremos ouvido bem? É que, ao contrário de António Costa, o presidente nunca geriu nada de dimensão significativa, só podendo dar bitaites com base nas teorias mais que equívocas em que acredita. E por causa das quais não raramente se engana...
Nunca teve de gerir um município tão vasto e problemático como Lisboa. Nunca lhe passou pelo dia-a-dia a necessidade de tomar decisões sobre a governação do país. Jamais lhe passou pelo crivo de administrador mais do que uma Fundação monárquica, que lhe garantia debruns pedantes mas escassa experiência nas folhas de excel.
É verdade que leva meio século de experiência como comentador. Mas sabemos bem os limites dos que atiram palpites da bancada, quando é dentro dos limites do terreno de jogo, que importa saber o quanto fazer.
Vale-nos a capacidade de António Costa ir aguentando os dislates hierárquicos com bonomia tranquila. Porque qualquer animal feroz teria vontade de o convidar a um passeio para diluir a prosápia numas quantas selfies.
3. Embora nunca tendo grande vontade para elogiar Marcelo reconheço-lhe a forma definitiva como atirou para o lixo a grande «ideia» de Luís Montenegro para a revisão constitucional: que o partido vencedor das eleições legislativas recebesse um bónus de 50 deputados como sucede na Grécia.
É claro que o Montenegro pensou nos resultados de 2015 e concluiu que o PAF teria assim formado governo sem que se formasse a atual maioria parlamentar. Mas Marcelo lembrou a total inexequibilidade da tolice: a exigência constitucional do respeito pela proporcionalidade ficaria assim posta em causa.
Montenegro continua, pois, igual a si mesmo: um pascácio, que desmerece qualquer atenção ao que diga...
Sem comentários:
Enviar um comentário