Porque me sinto magnânimo até compreendo a angústia quinzenal de Passos Coelho ou Assunção Cristas na véspera de cada debate quinzenal com António Costa. As notícias que favorecem o governo são tantas e os argumentos tão parcos para as contestar, que, numa e noutra bancada, a questão fundamental será inventar o que dizer. Sempre com a certeza de, tendo pela frente um tão competente tribuno, o mais certo é acabarem a tarde a lamberem as feridas das flagelações a que se sujeitaram.
Para evitar o vexame Passos Coelho atirou Montenegro para a fogueira na expetativa de que o avental lhe sirva de alguma proteção. Debalde, que a prestação é sempre confrangedora.
Fugindo ao tema em debate - a reforma sem penalização para as longas carreiras contributivas - Montenegro mostra ignorância sobre quem se responsabiliza pelo poder legislativo, acusando o governo daquilo que lhe não cabe: a fiscalização da Assembleia. De repente Montenegro parece um daqueles alunos cábulas a quem o professor tem de voltar a lembrar o «B-A-Bá» do texto fundamental da nossa Democracia. Depois, não contente com a auto-humilhação em que incorrera, logo Montenegro ajeita o avental e tenta denegrir a atitude de Mourinho Félix quanto a ter confrontado Dijsselboem com a sugestão de um pedido de desculpas pelos seus recentes propósitos xenófobos e sexistas.
Presumimos que Montenegro ainda tenha presente a cobardia de Cavaco perante o homólogo checo, quando este o amachucou por causa da situação financeira nacional. Ou a genuflexão de Gaspar perante Schäuble.
A quem se amedronta perante os que julga poderosos, deve-lhe custar muito a ousadia intimorata dos que cumprem o dever de fazer respeitar a dignidade nacional. Mas duvida-se que Montenegro saiba sequer o que isso significa.
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