Passados dois ou três dias sobre os incidentes num jogo de futebol entre o Rio Tinto e o Canelas, as televisões continuam a encher horas de programação com a repetição até à náusea das imagens em causa e à multiplicação dos comentadores a dizerem sempre o mesmo.
O episódio demonstra que, dos vários éfes a alienarem os portugueses dos seus verdadeiros problemas, o futebol é o mais nocivo, porque mobiliza o que de pior tem o inconsciente coletivo sob a forma de comportamentos bárbaros para com os «outros» destinados a serem ofendidos, agredidos, quiçá exterminados.
Não é por acaso que as claques dos principais clubes estão infiltradas por biltres da extrema-direita, que vão exercitando nos confrontos com os adversários e com os polícias, os atos a praticarem noutras condições políticas mais propícias aos seus ignóbeis valores. Essas organizações de fomento da delinquência são o ninho onde a serpente fascista vai sendo chocada para eclodir em momento mais propício para quem as desenvolve.
Numa sociedade de tolerância as paixões futebolísticas deverão ser denunciadas como estéreis, injustificáveis, porque faz algum sentido andar a discutir os méritos e deméritos de vinte e dois tipos em calções a correrem atrás de uma bola num qualquer estádio? Justifica-se que liguemos o televisor e o zapping nos direcione invariavelmente para quem perde tempo a falar nesse tema? Não há nada de mais importante a discutir?
Em tempos muito remotos acreditei que existia Deus, mas curei-me depressa passando a adolescência e a juventude a avançar aceleradamente para o meu impenitente ateísmo. Com o futebol aconteceu algo de semelhante: andei anos a entusiasmar-me com as suas vicissitudes até me começar a interrogar se fazia algum sentido dizer-me do clube A ou do clube B, ou se, na minha postura internacionalista, não estaria a alimentar remoques xenófobos ao alinhar na manipulação com bandeiras, hinos e equipamentos “nacionais” nos jogos da seleção?
Salvaguardando o fado como único éfe com sentido, execro cada vez mais tudo quanto tem a ver com Fátima ou futebol. Não há paciência para assistir a tão indigente maneira de alguns se sentirem pertença a algo maior do ponto de vista coletivo. Porque só significa que, a seu modo, reconhecem a mediocridade da sua personalidade, incapaz de se revelar única e inteligente...
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