Não fui, não sou, nem decerto serei um grande entusiasta de António Guterres como político. Apesar de militante do partido, nunca o senti como «meu» secretário-geral nem «meu» primeiro-ministro. Apesar de olharmos para esses anos como sendo dourados, com a Ponte Vasco da Gama a inaugurar-se e a Expo a pôr o país na boca do mundo, a sua governação não significou qualquer melhoria para os mais desfavorecidos, que continuaram a perder direitos em detrimento dos patrões. Terá sido esse um dos períodos históricos em que mais aceleradamente se cavou o buraco por onde depois se iria enfiar a banca na década seguinte.
O episódio do referendo sobre o aborto manchou-lhe definitivamente o percurso e nunca tal lhe perdoei, porque foi da sua responsabilidade o atraso de dez anos na aprovação de uma legislação de legitimidade mais do que incontestável.
Feito este distanciamento também não serei dos que lhe atirarão pedras por não conseguir um mandato de secretário-geral da ONU, que marque a diferença em relação aos predecessores. Uma coisa era desempenhar o cargo com Clinton ou Obama na Casa Branca, outra, completamente diferente, a de confrontar-se com as asneiras de Trump. Nesse sentido a prudência e contenção de Guterres até poderão ser particularmente adequadas para corresponder aos impulsos norte-americanos. Porque ter uma voz sensata no meio da confusão sempre fará alguma diferença. Mas só isso...
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