O papa está quase a vir a Fátima fazer uma visita de médico e somam-se os testemunhos de altos responsáveis da Igreja Católica a dizer o óbvio, embora até recentemente calado em nome da ortodoxia da fé e do centro comercial em que o santuário se transformou: “Maria não vem do céu por aí abaixo», asseverou agora D. Carlos Azevedo, bispo-delegado do Conselho Pontifício da Cultura no Vaticano.
Sem querer ofender ninguém nas suas convicções, sempre vou considerando que as “visões” dos pastorinhos só se explicam por viverem num ambiente rural marcado pelo misticismo e encontrarem nessa ilusão a oportunidade para ganharem o protagonismo próprio de quem possuía tão tenra idade.
Que uma igreja católica acossada pelo anticlericalismo dos republicanos visse na falácia a oportunidade para reverter a relação de forças virada do avesso pela revolução de 5 de outubro de 1910, é compreensível se nos ativermos ao que os seus responsáveis andariam estrategicamente a congeminar para utilizarem tão só tivessem oportunidade.
Jacinta, Francisco e Lúcia foram meros instrumentos de uma estratégia de que nem sequer terão compreendido os contornos. Muito oportunamente os dois primeiros sucumbiriam pouco depois à gripe espanhola e a sobrevivente também seria sujeita à clausura monástica numa ordem donde não conseguiria descair-se nas contradições entre o que efetivamente vira e a lenda profusamente divulgada.
Mantendo a intenção da objetividade podemos questionar-nos o quanto o fascismo pôde prolongar-se até aos 48 anos de efetiva ditadura, graças à catarse das frustrações com a vida terrena através da promessa de redenções paradisíacas no Além.
Não fosse a Igreja Católica tão eficiente a amarrar os crentes aos seus dogmas e quantos se teriam dela libertado para engrossar mais cedo a contestação ao regime? Não foi por acaso que Fátima era um dos efes identificados como pilares de sustentação do regime salazarista-marcelista!
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