Não gostei de ver Augusto Santos Silva mostrar compreensão pelo ataque ilegal dos Estados Unidos à Síria, mesmo enquadrando o seu comentário na lógica dos compromissos de Portugal enquanto membro ativo da Nato.
Por um lado já sabemos bem demais o que significam as «provas», em que os regimes ocidentais costumam querer acreditar, quando se trata de derrubar algum dirigente laico do Médio Oriente a quem qualificam de pária. Sucedeu com Saddam Hussein, está a repetir-se com Assad.
Por outro qualquer leitor de policiais, e muito particularmente de Agatha Christie, sabe bem que a mão criminosa é a que tem mais a lucrar com o resultado desse ilícito. Ora, numa altura em que estão a ser militarmente derrotados, são os «rebeldes», muitos dos quais jihadistas, os que beneficiam com o suposto ataque químico causador de dezenas de vítimas. Tanto mais que sabem montado o esquema aprimorado pela CIA de pôr governos e meios de comunicação ocidentais a imputar as culpas ao habitual «mau da fita».
Havendo nas suas hostes gente do mesmo calibre dos que abriram valas comuns para enterrar milhares de reféns dos seus atos terroristas em Mossul e outros locais da região, não custa a crer que tenham providenciado um paiol com produtos químicos intencionalmente localizados em sítio oportuno para causarem uma tragédia como a desta semana.
Ademais os próprios responsáveis pelo Pentágono tiveram bem a noção disso mesmo ao visarem uma base, que no dia seguinte já estava plenamente operacional, e com pré-aviso para quem ali estava se pôr a recato. Em tempos idos, quanto se tratava de visar Khadafi ou Mislosevic, o Pentágono não tinha pejo em bombardear os palácios ou residências onde os presumiam estar. O que não esteve agora em questão...
Resultado de tudo isto: a figura patética de Hollande e de outros estarolas europeus a entusiasmarem-se com uma iniciativa com muitas zonas cinzentas. Porque Trump aproveita para aparentar um falso distanciamento para com Putin e gastar quase noventa milhões de dólares em armamento em vias de se tornar obsoleto, arranjando fundamento para aumentar os lucros da respetiva indústria de cujos interesses é fiel defensor na Casa Branca, e imediatamente convidada a substitui-lo.
Não me admiraria nada que, em resposta, o envolvimento russo na Síria se acelere nos próximos dias e os tais «rebeldes» venham a pagar as favas da sua tentativa de comprometimento do regime num crime da sua exclusiva responsabilidade.
Aspeto colateral não negligenciável também o da futura reação chinesa ao desaforo de tal ataque - acompanhado de ameaça direta ao vizinho norte-coreano -, ter acontecido no decorrer da viagem de Xi Jinping aos Estados Unidos. O seu silêncio foi assaz ruidoso e mostrou como a Administração Trump não têm em conta a sensibilidade sui generis do regime de Pequim.
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