As falsas verdades não constituem uma realidade exclusiva dos nossos dias: há-as ao longo da História, enquistando-se na realidade e tornando-se suficientemente credíveis para sugerirem crenças inabaláveis e duradouras toponímias. Não foi preciso chegar a este tempo de redes sociais para que as efabulações dos mais imaginativos ou fraudulentos dos comunicadores se expandisse à velocidade das palavras sopradas de boca em boca.
Exemplo lapidar desse tipo de falsidades foi o divulgado pelo conquistador espanhol Orellana que, em 1535 participara com Francisco Pizarro na conquista do Perú e, cinco anos depois, acompanhara-lhe o meio-irmão Gonzalo na busca do El Dorado. A loucura pelo insano abocanhamento do metal amarelo sempre justificou riscos e despesas.
Separando-se dos companheiros, Orellana prosseguira por conta própria com alguns companheiros, acabando derrotado numa batalha ocorrida nas margens do rio Nhamundá. Montadas em cavalos e disparando flechas com zarabatanas, temíveis guerreiras haviam-nos desbaratado sem remissão. Razão para terem a sua fama a chegar até à corte espanhola onde o rei Carlos V ficou tão impressionado, que acomodou a designação de Amazonas à grande bacia fluvial em que aquele rio se integrava como afluente.
De nada valeu nunca mais se terem encontrado essas icamiabas, que replicavam as combatentes enaltecidas pela mitologia grega. Terão sido dizimadas pelos vírus para ali levados pelos colonizadores espanhóis e cujo dano conseguiu superar o da ferocidade dos soldados de Pizarro? Ou Orellana teve de inventar um argumento convincente para regressar a Espanha sem reconhecer o fracasso da busca das lendárias cidades douradas?
A lenda acabou por acrescentou o fascínio de uma região para onde continuaram a convergir os mais doidos dos crédulos, como esse coronel Fawcett que, no século passado, empenhou tudo no mesmo insensato objetivo, acabando por nele perder a sua vida e a do próprio filho.
Porventura ainda sobrarão alguns ingénuos capazes de acreditarem na possibilidade de subsistirem cidades desconhecidas no intrincado dédalo da sua verdejante cobertura, mas com esse pulmão planetário a desaparecer em nome de explorações de gado e plantações de soja, desaparecem os derradeiros fundamentos de tão atrativa lenda.
Sem comentários:
Enviar um comentário