Durante as próximas três semanas a regularidade com que aqui venho será condicionada por estar de férias das rotinas habituais e viver, uma vez mais, o privilégio de exercer o mester de avô a tempo inteiro.
Mas os tempos não permitem, que nos distraiamos dos acontecimentos quotidianos e de como eles poderão afetar-nos coletivamente. Por isso irei aqui anotando algumas notas pessoais ao sabor do que vou conseguindo ver, ouvir e ler.
1. Comecemos por cavaco silva. Sei que não é bonito bater em mortos, mas quando se ouve o disparate de minimizar a saída da Grécia do euro, considerando que tudo se resume à questão algébrica de os dezanove membros atuais passarem a ser dezoito, podemos concluir que, além de economista mais vocacionado para a contabilidade autista dos números, ele continua sem qualquer estratégia política, que vá para além da mesquinha intenção de ser servil com os que considera poderosos (merkel & Cª) e acintosamente arrogante com os que julga na mó de baixo.
Para a História ficará a mancha de os portugueses terem eleito, para primeiro-ministro e presidente da república, um indivíduo, que faz lembrar o título do romance de Musil: um homem sem qualidades.
2. Não tenho aqui deixado qualquer dúvida sobre para que lado pendo no conflito aberto entre o governo do Syriza e os credores entroikados. E acredito, pelo que tenho ouvido a muitos camaradas socialistas, que as declarações lamentáveis de muitos antigos e atuais dirigentes do meu Partido, tratando Tsipras e o seu governo de bando de irresponsáveis, só permite concluir sobre o desfasamento dos autores de tais diatribes com os valores dos que, em 1973, o fundaram.
O estado atual da social-democracia e do socialismo democrático compreende-se bem, quando vemos Mário Soares, em tempos posicionado ao centro dentro do PS, hoje a ultrapassar todos pela esquerda. Não porque tenha mudado alguma coisa nas suas convicções, mas porque muitos dos que dirigem, ou dirigiram recentemente o PS - mormente a ala segurista de má memória! - tomaram como suas as teses e os valores da direita.
O que se passou na Grécia foi isso mesmo: o PASOK, que durante tantos anos conseguira assumir-se como o maior partido representativo da classe média grega e dos que eram mais desfavorecidos, aclamou como secretário-geral o balofo Venizelos, cuja única preocupação foi transformar-se em bengala do entusiasmo austeritário da Nova Democracia. Será de espantar que o eleitorado socialista tenha mudado para o Syriza, que reivindicou políticas perfeitamente enquadráveis na lógica socialista e social-democrata, que o PASOK abandonou?
Embora como reformado esteja na linha da frente dos que têm mais a temer com o caos que o Grexit prenuncia, desejo que o Não saia vencedor incontestado do referendo de domingo. E, depois, que as merkels & Cª ganhem, enfim, juízo para não terem de voltarem a ser chamados à razão por Obama, Putin e Xi Jinping, como sucedeu este fim-de-semana.
Para já justifica-se a pertinência do que Roosevelt disse no seu discurso de investidura, em 1933 e que Tsipras citou anteontem nas redes sociais: : “Nestas horas críticas, é preciso ter presente que a única coisa que temos a temer é o próprio medo.”
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