Uma das grandes desilusões da minha juventude aconteceu com Bob Dylan. Eu, que vira o insuspeito Pete Seeger dá-lo como um dos seus mais esperançosos continuadores, andara entusiasmadíssimo a ouvir «Blowin in the wind» e a acreditar que ele enfileirava nos que contribuíam para que os «times» estivessem de facto «changing», descobri, boquiaberto, a notícia de se tratar de um dos investidores em empresas fornecedoras de armamento ao exército norte-americano no Vietname. O Dylan nada tinha a ver com a herança de Woody Guthrie e era apenas um oportunista interessado nos dividendos proporcionados pela sua condição de acionista em empresas de armamento.
O ídolo tinha pés de barro e não servia de consolo pressupor a mudança como consequência de ter ficado com a cabeça atoleimada após o desastre de mota, que quase o matara.
Lembrei-me disto a propósito de um editorial do «Público» sobre o que se passa no Iraque: os EUA venderam imensas viaturas blindadas e grande parte da artilharia com que o exército de Bagdade passou a estar equipado.
1-0 a favor dos acionistas do tipo Bob Dylan.
Depois, e particularmente nos últimos meses, o Estado Islâmico apoderou-se de parte significativa desse material, que serviu para ganhar maior capacidade operacional e conquistar cidades e regiões fundamentais para a sua estratégia de afirmação terrorista.
Não faz mal, porque os EUA planeiam agora mandar para o Iraque cerca de duas mil armas antitanque, de eficácia garantida contra os tanques anteriormente fornecidos e caídos em mãos inimigas.
2-0 a favor dos mesmos acionistas.
Perante esta sucessão de acontecimentos é natural atribuirmos alguma credibilidade ao que se passa na série «Odissey» atualmente em exibição num dos canais por cabo, quando mostra as grandes multinacionais a financiarem movimentos jiadistas. Tendo em conta que os negócios é que importam, qual o problema de investir simultaneamente nos dois lados da guerra em curso, se assim se maximizam os lucros?
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