Há quem manifeste muito entusiasmo pela atividade da fundação francisco manuel dos santos, que se transforma em autentico orgasmo mental quando se cita o Pordata como exemplo de trabalho sério e de referência.
Longe de sentir esse entusiasmo desconfio da bondade dos donos do «Pingo Doce» em terem sido os filantropos da sua ambiciosa função já que o seu contínuo comportamento empresarial tem tido sempre a marca de um claro retrocesso civilizacional no que diz respeito às relações sociais entre patrões e trabalhadores.
Não me parece exagerado dizer que, à escala nacional, soares dos santos e os seus herdeiros gostariam de transformar a sua fundação numa espécie de heritage foundation, uma think tank, que muito tem influenciado a política norteamericana no sentido ultraliberal das últimas décadas. E por isso mesmo, há um ano, decidiu substituir o já imprestável antónio barreto por nuno garoupa, um furioso discípulo de hayek e friedman, ou seja da mesma escola ideológica do álvaro santos pereira (o tal dos pastéis de nata), só que vindo do Illinois.
Ouvi, pois, com cautela as denúncias do estudo promovido por tal fundação a respeito da corrupção no Hospital Santa Maria, e amplamente divulgado por todas as televisões e jornais como um autêntico escândalo já que desmascararia a influência ilegítima da maçonaria, da opus dei e de dois partidos políticos em particular - o PCP e o PS - no funcionamento da instituição.
E, mais elucidado fiquei, quando soube que a base de trabalho dos «sociólogos» dele responsável foi a leitura atenta da imprensa nacional com destaque para os pasquins do costume.
Abordando o assunto na sua crónica diária no «Expresso», Daniel Oliveira condena o «estudo» de uma forma eloquente: “assim como um cientista se irrita quando os jornalistas fazem má ciência, é bom que os jornalistas não sigam acriticamente mau jornalismo feito por cientistas.
Quando a imprensa torna pública acusações de corrupção que os métodos jornalísticos de investigação não validaram está a tentar fazer jornalismo por interposta e errada pessoa.
O facto de uma cientista social fazer asneira não isenta os jornalistas do seu trabalho, não repetindo acusações graves sem base factual credível e verificada por si próprios.
Se uma fonte de um jornalista não chega, por si só, para acusar uma instituição de corrupção, uma fonte de uma cientista, que o jornalista nem sabe qual é, ainda menos chegará».
Em suma todos os trabalhos «científicos» oriundos da fundação do pingo doce devem merecer uma reação ligeiramente alterada da fórmula de Fernando Pessoa para a coca-cola: podemos estranhar-lhes o conteúdo … mas não os deixar entranhar nas nossas mentes ciosas em se protegerem das mais perigosas manipulações ideológicas...
Sem comentários:
Enviar um comentário