quinta-feira, 25 de junho de 2015

A Oeste nada de novo

Como a forte contenda entre o governo grego e as instituições entroikadas continua sem resolução, vale a pena desfocalizarmo-nos dela e darmos atenção a outros sinais de mudança na política internacional. Neste texto em concreto, fixemo-nos no que se passa nos States, onde o recente massacre de nove pessoas numa igreja da Carolina do Sul voltou a trazer a lume o racismo larvar que persiste na sociedade americana.
De nada valeu ter Obama durante dois mandatos na Casa Branca, já que o ódio aos negros só momentaneamente pareceu cingir-se aos polícias, sobretudo aos que esqueceram a realidade dos nossos dias: estamos sempre a ser potencialmente filmados enquanto andamos no espaço público.
Para quem esquecera a existência de movimentos mais ou menos aparentados com o Ku Klux Klan, os crimes da semana passada serviram de alerta.
Como contraponto positivo do sucedido vale a pena sublinhar o embaraço de três dos mais crapulosos candidatos à nomeação republicana, denunciados por terem recebido donativos para a sua campanha das mãos do guru do jovem assassino. E, numa atitude higiénica, a bandeira dos Confederados - que recuperara destaque em diversos Estados com direito a ser hasteada em edifícios oficiais - voltou a ser execrada, pelo menos na Carolina do Sul.
Não devemos, porém, cingir-nos aos problemas internos na terra do Tio Sam. É que os sinais de agravamento de algumas  estratégias imperialistas voltaram a ser anunciadas.
Por exemplo o Senado aprovou o Tratado comercial com a União Europeia, que constitui uma séria ameaça à economia de muitos países europeus - nomeadamente o nosso! - incapazes de competirem com regras preparadas e discutidas para melhor servir os interesses das multinacionais americanas.
Noutro caso muito discutido em França esteve a denúncia pela Wikileaks da contínua espionagem da sinistra NSA sobre tudo quanto faziam os últimos presidentes gauleses: Chirac, Sarkozy e Hollande. Nem os supostos aliados se livram da bisbilhotice interesseira dos serviços secretos comandados a partir de Washington D.C.
Significando perigos aparentados com os tempos mais obscuros da Guerra Fria, os EUA também pretendem estacionar armamento pesado nos países da NATO com fronteiras próximas da Rússia.  Trata-se de uma provocação a que Putin não deixará de dar resposta, mas que sobe mais um patamar no clima já tenso naquela região, sobretudo desde que a Casa Branca e Bruxelas decidiram incentivar, e provavelmente financiar, todas as insurreições suscetíveis de colocar o Kremlin à beira de um ataque de nervos.
E, porque o imperialismo não conhece limites nem fronteiras o Pentágono decidiu transformar duas ilhas do arquipélago das Marianas, no oceano Pacífico, em campos de treino para preparar  invasões com navios e aviões e fogo real. Claro que os habitantes locais não acharam nenhuma graça à ideia e lembraram à comunidade internacional os crimes ecológicos em perspetiva: essas ilhas são rodeadas de recifes de coral que formam ecossistemas raros e frágeis e, nelas, habitam várias espécies protegidas, como grandes morcegos-da-fruta, aves, lagartos e caracóis.
Racismo, agressões militares e económicas, espionagem: passados seis anos desde que Obama passou a residir na Casa Branca não se pode dizer que algo de substancial tenha mudado na política americana, quer interna, quer externamente...

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