domingo, 28 de junho de 2015

Três perguntas de um operário letrado

“Tantas histórias, tantas perguntas”. É assim que se conclui «Perguntas de um Operário Letrado», um dos mais conhecidos poemas de Bertolt Brecht, que começa com a questão sobre quem terá verdadeiramente construído Tebas, a das sete portas.
Desassombrado, o operário lembra que nos livros terão sido os reis a mandá-la construir, mas quem carregara as pedras para a tornar possível?
É, dentro desse mesmo espírito, que vale a pena olhar para os acontecimentos dos últimos dias e lançar perguntas, cujas respostas decerto nos seriam bem proveitosas.
Comecemos pelo escândalo conhecido este sábado na edição semanal do «Expresso»: numa indisfarçável decisão de favorecimento a amigo, passos coelho mandou reabrir a embaixada portuguesa da Unesco em Paris para aí encontrar lugar apetecível para o seu chefe de gabinete, Gilberto Jerónimo.
Ora, paulo portas tomara a decisão racional de fechar essa embaixada porque, já havendo a embaixada lusa na capital francesa, não se justificavam os custos adicionais de uma outra representação diplomática sedeada na mesma cidade.
Tendo em conta que já o anterior chefe de gabinete fora nomeado, meses atrás, para a embaixada em Madrid, que diferença existe entre estas manifestas decisões de passos e as de miguel macedo, já constituído arguido por ser, igualmente, pródigo a favorecer os amigos?
Passemos ao segundo escândalo da semana: o arrasador relatório do Tribunal de Contas sobre a gestão de marco antónio costa, quando serviu de lugar-tenente a meneses na Câmara de Gaia.
Os números escalpelizados pela auditoria em causa não deixa margem para dúvidas, muito embora o dono da máquina laranja assevere tratar-se de meras suspeições sem nada de concreto a comprová-las.
Será? Por muito menos do que isso o ministério público tem José Sócrates preso em Évora há mais de sete meses. Não serão as provas contra marco antónio bem mais comprovadas do que as inventadas contra Sócrates? Que espera carlos alexandre para pôr o antigo autarca de Gaia atrás das grades?
Menos divulgado, mas não menos importante por constituir uma afronta inaceitável contra os representantes do povo português na Assembleia da República, está a recusa de carlos costa em entregar aos deputados da Comissão de Economia o relatório da auditoria interna que avaliou a atuação do regulador no processo BES. O homem de mão de passos coelho no Banco de Portugal alegou sigilo bancário. Mas a pergunta que fica é esta: que informações estão inseridas nesse documento e que carlos costa não quer dar a conhecer? Até que ponto continuaria a manter a pretensão de cumprir mais um mandato na instituição se se soubesse o que quer sonegar ao conhecimento dos cidadãos?

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