A influência judaico-cristã
estará provavelmente na origem da simpatia generalizada dos portugueses para
com os gregos, neste momento preciso em que os veem encostados contra a parede
e com a espada a ameaça-los trespassar.
Bem podem querer machete e cavaco silva virar o filme do avesso para os
apresentarem como chantagistas, que essa mentira descarada não passa. Nestas
semanas de notícias sucessivas sobre os impasses e os falsos acordos iminentes nas negociações, o
lado da ameaça e da chantagem tem estado sempre do lado dos credores.
Cientes de que, nesta altura, os gregos defendem as nossas próprias pensões
de reforma e os nossos direitos laborais, os portugueses discordam
maioritariamente que, nas reuniões do
Eurogrupo ou nas cimeiras de líderes europeus, maria luís albuquerque de um
lado e passos coelho do outro, façam por atirar mais lenha para uma já bem
ateada fogueira. Estamos numa espécie de luta mortífera entre David e Golias e
quase todos anseiam pela vitória do primeiro.
É que, como denunciou Catarina Martins na Assembleia da República,
servindo-se dos dados fornecidos pela edição de ontem do «Financial Times», dos
biliões de dólares supostamente emprestados à Grécia apenas 1 em cada 10 serviu
para medidas de apoio previstas no memorando de entendimento, já que quase 9 em
cada 10 foram parar diretamente ao sistema financeiro alemão e francês. Agora,
para que os lucros dos bancos dos dois principais países da União não sejam
postos em causa, os gregos são instados a pagarem não só o que lhes foi
emprestado diretamente, mas também o que foi embolsado pelos verdadeiros donos
de merckel e de Hollande.
Ao fim de quatro meses de negociações, ou da sua aparência, já que de um
lado da mesa tem sempre imperado a má-fé de quem pretende derrubar o seu
governo progressista, é forçoso reconhecer em Alexis Tsipras, a Varoufakis e
nos demais ministros gregos, uma coragem e uma determinação, que merecem ser
bem sucedidas. E é essa a única arma de que dispõem contra umas centenas de interlocutores
fanatizados por conceções cujas consequências dramáticas estão já bem à vista
de quem as queira ver.
Mostrando a fibra de serem mais do género de quebrar do que de torcer, os
governantes gregos estão a confrontar as instituições europeias com os
labirínticos impasses em que as suas mentes burocráticas as precipitaram. E com
a corda a partir-se não serão povo grego a ficar pior do que já está:
provavelmente chegar-se-á a uma situação em que os demais povos europeus, ainda
mais causticados pelo dogmatismo austeritário dos seus governantes, sentirão
finalmente a necessidade de imitarem os gregos na decisão de dizerem não a quem
os humilha e ofende…
Pena é que não se tenham levantado mais cedo num movimento pujante de
solidariedade com quem , cuidando de si, é afinal por todos que está a lutar!
Sem comentários:
Enviar um comentário