terça-feira, 17 de abril de 2018

Sobreviverá o Mediterrâneo a mais um verão?


Será que faltará muito pouco para que o Mediterrâneo se torne no maior mar morto a nível mundial? Apesar de abrigar 10% da biodiversidade do planeta são numerosos os sinais de estar para breve o chamado “burn out”.  Para essa perspetiva concorrem a pressão demográfica, o turismo de massas e a intensificação do tráfego de navios de cruzeiro, a betonização e as instalações industriais que afetam a qualidade das águas e exigem dez anos para a correspondente regeneração.
Detetam-se doenças nas populações ribeirinhas, provocadas pela poluição, e as consequências sociais adivinham-se dramáticas, porque se os promotores imobiliários, os agentes turísticos  e os autarcas enriquecem graças aos proveitos dos recursos propiciados pela localização das suas atividades, há muitos que vão ficando mais pobres como é o caso dos que viviam da pesca artesanal e nela já não encontram sustento bastante.
A fauna vai desaparecendo das zonas costeiras e algumas espécies, como as sardinhas, perderam um terço do peso e tamanho nos últimos anos.
De Palma de Maiorca ao Líbano passando pela Grécia, Turquia e Montenegro, Alexis Marant rodou um documentário sobre os desafios ecológicos e as batalhas económicas, que põem em confronto os empresários e os cientistas, os políticos e as populações locais acolitadas por ativas ONG.
Da investigação resultaram conclusões pertinentes, mormente sobre o perigo potencial de um comercio marítimo globalizado, comandado pela cumplicidade entre políticos e influentes homens de negócios. Os litorais vendidos sem preocupações com o seu ordenamento territorial, ora pejado de marinas (na baía de Kotor no Montnegro) ora de lixo (Beirute), pressagiam o sombrio futuro, passível de transformar o berço da civilização ocidental no seu túmulo.
Explicando o projeto, o realizador confessou ter apostado em mostrar evidências de realidades ainda pouco divulgadas como é o caso do impacto ecológico dos paquetes ou os 500 mil m2 de dejetos amontoados  junto ao mar em Beirute. Para além do perigo ecológico está em causa a ganância dos promotores imobiliários a respeito de terrenos conquistados ao mar num contexto de um litoral já sobrecarregado de betão.
Nos nove meses necessários para concretizar o projeto, Marant constatou que, apesar de tantas leis e projetos de salvaguarda dos ecossistemas, os capitalistas encontram sempre forma de lhes serem indiferentes conquanto maximizem os seus lucros.
Ora o Mediterrâneo está particularmente ameaçado por apenas ter comunicação a ocidente com o Atlântico, constituindo uma imensa superfície líquida semifechada, para a qual se torna difícil conciliar os interesses contraditórios dos 24 países e territórios, que constituem as suas margens.
(O documentário de Alexis Marant é exibido hoje no canal ARTE, às 19h50)

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