Em 5 de maio iremos celebrar o bicentenário do nascimento de Karl Marx, efeméride que nos desafia a atualizar a sua análise do capitalismo e das lutas de classes à luz deste presente em que a globalização e a financeirização das economias baralharam as contas dos que apostavam num determinismo histórico, que se cumpriria em iminentes amanhãs que cantassem.
Vimos muitos esquerdistas desencantados mudarem de campo, abjurarem as antigas convicções, ainda que, paradoxalmente, se viessem a revelar tão dogmáticos nas teses contrárias quanto o haviam sido nas que lhes tinham iluminado as tardias adolescências. Mas só nos podemos congratular com essa autodepuração, que fez diminuir o ruído num espaço de pensamento onde importa potenciar a lucidez, a clareza de espírito.
Para os que não se renderam ao pensamento dominante nos órgãos de informação - inteiramente nas mãos de quantos pretendem retardar tanto quanto possível a concretização de uma sociedade mais justa e igualitária! - a recuperação urgente da metodologia analítica proposta por Marx, para a aplicar ao atual momento histórico, torna-se um imperativo. Porque pode englobar os contributos segmentados de tantos investigadores, que detalham os sintomas do mal estar social e os associam a causas muito precisas, mas as não enquadram em razões mais a montante, inevitavelmente relacionadas com o trabalho convertido em mercadoria e no capital cada vez mais ganancioso na acumulação das mais-valias.
Um bom estímulo para a reflexão pode ser a programação do canal franco-alemão neste sábado porque exibe «Karl Marx, Pensador Visionário» de Christan Twente ao início da noites, seguindo-se-lhe o documentário «De Marx aos Marxistas» de Peter Dörfler.
Mario Adorf veste a personagem de Karl Marx no primeiro desses filmes, que tem a filha do filósofo, Eleanor, como narradora, iniciando-se em 1882, quando, entre sucessivas viagens e já adoentado, ele sentia-se exaurido pela escrita do segundo volume do «Capital», uma obra que o ocupara durante duas décadas. Voltando ao passado vemo-lo evocar sucessivamente a juventude romântica, o casamento com a brilhante aristocrata Jenny von Westphalen e o frutuoso exílio em Paris, antes de passar por tempos assaz difíceis em Bruxelas e em Londres. No meio das sucessivas reconstituições da vida do homenageado, vão surgindo biógrafos, historiadores e economistas para acentuarem as suas fulgurantes propostas, sem escamotearem algumas das suas contradições.
A proposta de Peter Dörfler aborda as diversas aplicações das teorias marxistas no último século e o quanto elas permanecem vivas hoje em dia. De Atenas a Pequim, de Berlim a Paris, escalpelizam-se não só os regimes soviético, chinês, cubano ou leste-alemão, mas também os diversos movimentos ocorridos em 1968 em França, na Alemanha, nos EUA. Hoje os críticos mais argutos do capitalismo financeiro não dispensam as orientações marxistas, aplicando-as à interpretação dos acontecimentos atuais.
Quem tiver arriscado, que o marxismo se convertera numa teoria obsoleta, depressa se dará conta de quão exagerado fora o seu anúncio de dobrar a finados...
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