quinta-feira, 12 de abril de 2018

E Trump voltou a enfiar a viola no saco


Bastou o embaixador russo no Líbano informar que qualquer míssil disparado contra a Síria seria intercetado, e logo a origem do seu lançamento contra-atacada, para a prosápia de Trump, de May e de Macron equivaler à da proverbial viola metida no saco. Aquela que era a anunciada e iminente agressão a Damasco foi adiada para o dia de são nunca mais, até porque os russos lançaram outra pista curiosa: a intenção inicial do Pentágono teria sido a de, com essa ação militar, apagar as provas de o envenenamento com sarin e cloro ter sido fabricado pela oposição ao regime, ciente de ter perdido a guerra e buscando no envolvimento das grandes potências ocidentais a derradeira esperança para impedirem a inevitável vitória de Assad.
E para três dos principais líderes das direitas euro-atlânticas - prudentemente Merkel, que tem negócios bastante rentáveis concertados com Putin, tem-se posto de fora- , tentam evitar que falhe a estratégia, que tinham sisado, quando asseguraram a independência dos países bálticos e a orientação da Ucrânia para a órbita da NATO: a inoperacionalidade da frota russa  no continente europeu por não terem bases navais onde concentrarem os seus navios, quando o Báltico gela. Com a recuperação da Crimeia e a manutenção de importante reduto na costa síria, a Rússia garante o futuro da sua influência militar contra os ameaçadores vizinhos ocidentais, que viu alargarem as fronteiras com a anexação ideológica dos antigos parceiros do Pacto de Varsóvia.
O que está em causa no clima de tensão, que fez alguns temerem por um conflito nuclear no espaço europeu, é a vontade de humilhação imposta pela NATO a um país, que nunca aceitará ser reduzido à irrelevância. O orgulho do povo russo importa mais do que a autocracia de Putin, que apenas lhe serve de instrumento circunstancial. E é isso que Trump, Macron e May nunca compreenderão: o momento histórico, que deveria ter possibilitado, com a queda do muro de Berlim, a concretização do sonho de De Gaulle de uma Europa do Atlântico aos Urais, foi sabotado pelos interesses do Pentágono e da indústria militar por ele alimentada. Os norte-americanos impuseram a continuidade da NATO, quando a aliança militar contrária foi dissolvida. E, como se constata com a imposição do Schengen militar atualmente em discussão, quererão sempre ditar a política de segurança de um continente, que não encontra arte para a vocação de impor a sua própria identidade, teimosamente curvada ao domínio imperialista, mesmo sabendo-o a tender para um declínio irreversível.

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