Escrevi-o há dias e volto a reitera-lo: daqui a uma semana, quando participar na votação para o 22º Congresso do Partido Socialista, apoiarei sem qualquer rebuço a Moção “Portugal 20/30”, subscrita por António Costa que o responsabiliza pela liderança para novo mandato.
Faço-o, porque só os politicamente cegos ou mal intencionados negarão que, nestes dois anos e meio “o Governo melhorou a vida dos portugueses, a economia e o emprego, e restabeleceu a confiança”, virando “a página da austeridade, respeitando em simultâneo os compromissos internos e internacionais e recuperando a economia, o emprego, as finanças públicas e a credibilidade internacional.”
O documento está organizado em quatro eixos, todos eles fundamentais no futuro que se perspetiva a médio e longo prazo: a sociedade digital, as alterações climáticas, o desafio demográfico, e uma sociedade menos desigual.
Aposta-se em que as ferramentas digitais não podem ser instrumentalizadas para se converterem numa ameaça à democracia.
Aponta-se a recente seca extrema de grande parte do território nacional como prova dos efeitos das alterações climáticas a serem contrariadas por políticas ativas, nomeadamente nas da gestão da água disponível e das condições dos solos cultiváveis.
Procurar-se-ão criar postos de trabalho, que compensem os efeitos da robotização e da digitalização na organização e no conceito de trabalho. Segundo as previsões da OCDE podem desaparecer nos próximos anos 14% dos atuais empregos e ser alterado significativamente o perfil de especialização em 32%.
Haverá que contrariar a tendência para a anunciada redução da população, de dez milhões para sete milhões, que poderá pôr em causa a sustentabilidade do modelo social em vigor. Além de políticas de incremento à natalidade, assume a necessidade de atrair e receber mais imigrantes.
E propõe-se a aposta na educação, na saúde, na liberdade e na segurança, que contrarie e expetativa de 0,1% da população mundial deter 25% da riqueza em 2050, quando em 1980 esse indicador era ainda de 10%.
Promete-se, em suma, uma sociedade mais aberta e inclusiva da diversidade, rejeitando a xenofobia, o racismo e a intolerância.
Quanto à moção, que se opõe à por mim apoiada, e que propõe primárias para todos os candidatos a cargos políticos, abertas a simpatizantes, não é para levar a a sério: Daniel Adrião e os seus apoiantes ainda não colheram a lição do sucedido noutros países europeus, onde os Partidos Socialistas foram praticamente erradicados dos respetivos mapas políticos com essa perversa inovação.
Mas não posso concordar, de modo algum com Hugo Pires, quando defende a irrelevância de sedes locais do PS por radicar no mundo digital a atenção privilegiada das gerações mais novas. É verdade que esses espaços não devem servir apenas para os militantes reunirem ou jogarem às cartas em frente à televisão. O desafio deveria ser o de as transformar em locais ativos de concentração de militantes disponíveis para daí saírem frequentemente ao encontro das populações em mercados, estações de transportes e outros espaços públicos, onde pudessem ouvir-lhes os anseios e preocupações e dar-lhes as alternativas credíveis nos patamares de decisão onde possam ser satisfeitos.
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