O Pedro sentou-se à mesa da sala de reunião para estar alguns minutos em silêncio antes que o Ricardo se lhe viesse juntar. Havia que preparar a edição do semanário com a dos noticiários televisivos. O objetivo, previamente consensualizado, estava pré-definido: estava para breve o Congresso do partido do governo, pelo que teriam de fazer os possíveis para que tivesse o mínimo impacto no eleitorado. Felizmente que o Vieira tivera uma ideia luminosa: e se, a partir de agora, batessem sempre na tecla de haver quem, internamente, quereria ver expulso o antigo-primeiro ministro? É certo que todos os esforços para o dar como corrupto continuavam a esbarrar na falta de provas em tribunal, mas tinham trabalhado tão bem, que da fama jamais ele se livraria.
Angustiava-o, porém, o fracasso representado pelo Congresso do partido mais à direita, semanas atrás: tinham dado tantas horas de exposição à líder, que acreditaram piamente em mudanças significativas nas sondagens. Onde teriam errado que, afinal, ela mantivera-se nos miseráveis valores de antes?
Pelo vidro viu que o irmão do primeiro-ministro já aí vinha e fez para si mesmo a silenciosa pergunta do costume: o que terá acontecido a este tipo para tentar linchar o detestado governante com mais afã do que qualquer outro de entre nós?
No sábado seguinte, quando veio da reunião do clube, o tio Jacinto veio encontrar a tia Genoveva a ver o telejornal. A apresentadora falava de uma vaga de fundo dentro do partido do governo para correr com o antigo dirigente. Olhou para a mulher e disse-lhe: «Estes gajos não sabem o que inventar mais!
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