sábado, 28 de abril de 2018

Dava-lhes muito jeito não existirem redes sociais, não era?


Ao esperarmos nas filas para as caixas do supermercado somos visualmente agredidos por capas de revistas ditas cor-de-rosa, que nos podem informar como o casal A está novamente a reacender a paixão ou o apresentador B casou com o namorado numa festa muito animada. Há quem olhe interessado e alguns até arriscam virar algumas páginas, sem chegarem a pôr a publicação no cesto. Quiçá com vergonha do que se pensaria sobre a sua condição mental!
Nos quiosques é a mesma poluição visual, tornando quase exercício de ir à procura do Wally o de encontrar, entre tanto lixo, algo que verdadeiramente valha a pena comprar para conseguir informação credível e enriquecedora.
A degenerescência da imprensa, que vem dela dissociando muitos dos consumidores, tem origem na tabloidização dos seus conteúdos. A informação deontologicamente irrepreensível e objetivamente fiável foi substituída pela falta de escrúpulos no recurso às mais ignóbeis fake news. Reduzem-se os poucos projetos editoriais concentrados num número cada vez mais exíguo de proprietários, todos eles protagonistas da financeirização das economias através do recurso sistemático a paraísos fiscais!. De nada vale aos mercenários, que neles trabalham,  queixarem-se da concorrência das redes sociais, porque a dimensão alcançada pela violação da privacidade de quem quer que seja, há muito foi concretizada por eles próprios.
À partida a tabloidização intensiva dos jornais populares ingleses (the Sun, The News of the World) e do norte-americano The New York Post, pelo australiano Rupert Murdoch nos anos 70 foi vista como uma curiosidade aparentemente benigna, que não traria nem grande mal, nem grande bem, ao mundo de então. Ademais, se a inserção de meninas de mamas ao léu na página três ofendia os puritanos, tanto bastava para que os paladinos da Revolução Sexual revelassem complacência com tão «ousado» atentado aos bons costumes.
As notícias falsas não tardaram a constituir a regra dos títulos de primeira página, quando minguavam as suspeitas de escândalos com famosos perseguidos insistentemente por paparazzis pagos a preço de ouro. Estórias sobre corpos sem cabeças encontrados em bares ou iminentes ataques de abelhas gigantes foram testando a credulidade de leitores progressivamente embrutecidos, acefalizados, dispostos a aceitarem como realidades o que não passavam de meras trapaças. Histórias de alcova eram sucesso garantido, alternando com mitos urbanos como o de Elvis continuar vivo, ou com curiosidades estúpidas do tipo «o homem que vive com um crocodilo».
Quem trabalhou em tais jornais confessa ter tido como regra a obsessão por tornar qualquer personalidade situada ideologicamente à esquerda como suspeito potencial de todos os crimes e malfeitorias possíveis. Porque esse era o objetivo de Murdoch: chegar à situação atual em que o seu canal (Fox News) contribuiu decisivamente para levar Trump à Casa Branca e, por todo o lado, onde se estende a sua virulenta influência, esmagar as esquerdas tanto quanto possível.
Em Portugal é o mesmo esquema que norteia os jornais e as televisões de Balsemões e Paulo Fernandes, os Observadores e as Sábados, os is e as TVI’s de que ainda não se sabe para quem sobrará.
Está em curso uma guerra política intensa no nosso país e o domínio da comunicação social é uma das vertentes utilizadas pelos donos disto tudo para assim o continuarem a ser. E por isso mesmo têm tanto medo de blogues, de facebook e de outros recursos alternativos, que lhes podem frustrar os intentos.

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