1. Dos conteúdos hoje publicados no «Expresso», o que mais retenho é a entrevista a Jerónimo de Sousa, que bem deve ter desagradado a muita gente do patronato e das direitas em geral ao admitir a forte possibilidade de se formar uma convergência semelhante à atual no próximo quadro parlamentar subsequente ao das eleições legislativas de 2019. A exemplo de Álvaro Cunhal que, nos seus últimos anos como secretário-geral do PCP, parecia ter um discurso algo diferente do de muitos dos seus camaradas, Jerónimo de Sousa revela a prudência de um sábio e a paciência de um santo para aguardar pelas condições mais favoráveis às suas ideias. Nesse sentido cita uma frase do mais ilustre dirigente histórico do seu Partido, que propunha “grande flexibilidade tática e uma grande determinação estratégica.”
Seria desejável que dirigentes comunistas a nível autárquico revelassem idêntica argúcia não se comportando como os de Almada que, feridos pelo peso de uma inesperada derrota, decidiram reagir com o coração em vez de usarem os conselhos do seu mais admirado líder. Talvez tivessem, assim, evitado um bloco central contranatura, que vai fazendo os possíveis por desminar as armadilhas ali deixadas por quem mostrou tal desfasamento com o sentimento dos munícipes, que só quem ali não fez campanha eleitoral nem deu pelo desagrado de tantos para com uma vereação amadorrada numa inércia de movimento, que só aproveitava o anteriormente desenvolvido, é que pôde ficar admirado com a vitória socialista.
2. É claro que, semanalmente, vou auscultando o pensamento de Marcelo através do seu alter ego (Ângela Silva) na redação do semanário de Balsemão. Ficamos, assim, a saber que, influenciado por uma Associação de Médicos Católicos (imbuídos do espírito fascista de quererem impor aos outros o seu código inquisitorial de valores!), ele prepara-se para vetar a lei que o Parlamento aprovou para baixar para os 16 anos a idade de mudança de sexo.
Marcelo não consegue deixar de ser quem é. Tal como lhe devemos a morte ou sérias complicações ginecológicas de muitas mulheres, forçadas por mais uns anos a abortarem clandestinamente pela coligação negativa estabelecida entre ele e Guterres, o atual inquilino do palácio de Belém sempre intenta travar a História como se a sua quixotesca oposição bastasse para se opor a alterações civilizacionais, que os anos acabam por revelar naturais, só espantando que tenham demorado tanto tempo a vingar.
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