sábado, 7 de abril de 2018

Burra? Nem por isso. Mas desonesta...


1. Perante a insistência de Assunção Cristas em manter um tom de arruaceira nos debates parlamentares com o primeiro-ministro  - julga ser essa a melhor forma de se dissociar do PSD em cujo eleitorado pretenderia captar as simpatias, que lhe permitissem justificar a liderança do CDS para além de 2019! -, há quem se interrogue se os argumentos utilizados com tão rebarbativa retórica espelham a sua profunda ignorância ou, ao invés, uma indecorosa desonestidade.
A meu ver, a dúvida não se justifica. Ao longo da breve carreira política Cristas sempre revelou a capacidade que certas pessoas inteligentes possuem para investirem esse talento na vigarice intelectual, que as possa beneficiar sem manifestarem o mínimo escrúpulo quanto aos danos, que causem à sua volta O problema é essa estratégia redundar em resultados mitigados, pois as sondagens mostram a renitência dos potenciais eleitores em deixarem-se ludibriar pelo seu conto do vigário.
Quem pode crer que existe atualmente mais austeridade do que no tempo em que ela era ministra de um governo, que cortava salários e pensões e não tendo pejo em defender o aumento dos descontos dos trabalhadores para a Segurança Social para que os patrões vissem diminuído esse esforço? Porque a memória não é tão curta quanto ela desejava serão poucos os que acreditam ser hoje maior a carga fiscal do que a de então, compreendendo perfeitamente que, se há mais gente empregada, os impostos decorrentes aumentem significativamente. E se o consumo aumenta também o IVA conhece correspondente incremento. Quem tem dúvidas que, se as receitas dos impostos aumentaram em absoluto, elas reduziram-se, ainda que insuficientemente, para todos quantos as tinham visto significativamente aumentadas quando Vitor Gaspar era tido como o suprassumo da barbatana pelos comentadeiros agora descoroçoados com a defeção do seu herói de então?
Claro que Assunção Cristas sabe bem isto. O problema é faltarem-lhe outros fundamentos, que lhe deem credibilidade. E podemos imaginá-la, insone, a adivinhar o discurso, que terá de fazer no dia seguinte às próximas legislativas. É que, até lá,  não se perspetivam grandes razões para se sentir minimamente otimista.
2. Pacheco Pereira mostra bem a verdadeira face de impenitente conservador, quando defende para a Cultura algo de muito semelhante ao que Rui Rio aplicou na cidade do Porto e que quase reduziu a produção cultural a um vasto campo de ruínas. No entanto, no meio de tanta atoarda defendida no último «A Quadratura do Círculo» realçou algo que é evidente, mas inaceitável numa perspetiva ética: as sociedades tendem a desculpar as direitas do seu envolvimento em casos de corrupção, porque essa seria sempre a sua natureza. Mas, quando o suspeito é quem estava alinhado à esquerda, a indignação é bem maior, justificando elevadas penalizações. Como se o que se desculpa à direita fosse tido como imperdoável quando atribuído a alguém de esquerda.
Os exemplos verificados no nosso país são bem ilustrativos desta constatação: nas redes sociais José Sócrates ou Armando Vara são diabolizados com uma intensidade, que não se compara com as bem mais mitigadas referências a Dias Loureiro, a Duarte Lima, a Miguel Macedo ou a Marques Mendes. E, no entanto, comparando uns com outros, os indícios demonstrariam serem estes últimos os causadores de esbulhos mais significativos nos bolsos dos contribuintes.

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