sábado, 31 de dezembro de 2016

A necessidade de Política com maiúscula

As circunstâncias recentes levam os mais inquietos a equacionar não só o que tem motivado comportamentos coletivos inesperados em sucessivas eleições, mas como lhes devolver alguma racionalidade. Porque o singular é tornarem-se ainda mais prejudicados os que apoiam com entusiasmo quem os quer vincular a labirinto ainda mais intrincado.
Não há muito tempo tudo se explicava pelo primado da economia sobre a política. Que transformava em quimeras as promessas feitas pelos atores atraídos pela governação. Dilatou-se, ainda mais, a associação entre a mentira e o discurso político. E foi nessa desadequação entre o prometido e o cumprido, que ressurgiram, quais mortos vivos sinistros, os herdeiros das antigas ideias fascistas.
Recuperar a imagem dos políticos, eis pois o que propõem os mais inquietos. Devolver à Política a perdida reputação de constituir a autoridade de veicular as mudanças bastantes para recriar o sentido da esperança a quem a perdeu. Substituir o medo e a raiva, que beneficiam os candidatos a tiranos, pela genuinidade das utopias, que concebem soluções para quantos obstáculos se atravessem.
Mas esse esforço tem um custo: o de disponibilizar tempo e dinheiro para tudo discutir, tudo por em causa, mas sempre no fito de reconstruir caminhos anteriormente ensaiados e logo desviados das planeadas rotas. Porque merecermos a condição humana significa focar-nos nos valores fundamentais, que os revolucionários franceses de há duzentos e trinta anos sintetizaram na Liberdade, na Igualdade e na Fraternidade. E que, no século seguinte, os utópicos e os mais realistas, definiram como Socialismo.
Promovê-lo, concretizá-lo só faz sentido se quem se empenhar nesse esforço estiver disposto a tudo dar e a nada querer receber para si em troca. Os partidos e movimentos, que se reivindicam dessa mudança estão inundados de arrivistas dispostos a agirem por interesse próprio, seja por narcisismo, seja pelos esperados benefícios financeiros. Por isso não têm ideias para a questão enunciada há mais de cem anos por quem congeminava o fim do czarismo: Que fazer?
Como lhes falha estratégia, ficam-se pela tática mais imediata, em que objetivos comezinhos - ganhar uma eleição local a um parceiro de coligação parece bem mais importante do que criar as condições de unidade perante ambições mais latas e temporalmente mais distantes. Mesmo sendo as que verdadeiramente produzirão resultados.
Por isso um amigo, o Manel, tem razão, quando diz estar disposto a pagar para fazer Política com maiúscula. Aquela que não se faz andando com os pés apenas no chão e vislumbrar apenas o que o horizonte nos proporciona desta perspetiva, mas sobretudo aquela que levou Newron a dizer-se capaz de ver mais longe porque se pusera aos ombros dos gigantes.
Esses ombros, sabemos bem a quem pertencem. São-nos os de um Karl Marx cujas ideias fundamentais permanecem atuais. São-nos os de um Stephen Hawking que nos demonstrou a superioridade da Ciência sobre os preconceitos e por isso reduziu a cinzas as argumentações sobre a existência de um qualquer deus. E muitos, mas muitos mais haverá, desde Hegel, que nos deu consistência à dialética, até Feynman, que nos ensinou a explicar com simplicidade os mais imbrincados conceitos de forma a torná-los acessíveis aos mais analfabetos.
Porque, no essencial, trata-se de combater a ignorância, sem nos atermos se ela é nova ou velha, em função de decorrer das redes sociais ou apenas da falta de escolaridade. É que dessa ignorância emergem os que desprezam a democracia e a querem negar a quem só deseja torná-la mais efetiva. Porque não há democracia sem conhecimento e uma menos desigual distribuição da riqueza.
Matisse 

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