No «L’Obs» desta semana o respetivo diretor, Mathieu Croissandeau, queixa-se deste 2016 ter sido, desde há muito tempo, o pior ano vivido pela comunidade internacional entre a permanente ameaça terrorista e os massacres de populações, o inesgotável fluxo de emigrantes através do Mediterrâneo e os naufrágios que lhes causaram mais de sete mil mortes, as desigualdades crescentes entre os muito ricos e os que nada têm por causa do desarranjo causado pela globalização, a incapacidade das esquerdas para corresponderem aos medos e raivas das populações e o decorrente crescimento das direitas mais extremistas.
Compreende-se que, em tal conjuntura, os europeus e os norte-americanos se sintam tomados de um pessimismo, que os leva a votar de acordo com as emoções neles suscitadas pelas mentiras disseminadas por sites e meios de (des)informação, neles capazes de insinuar uma realidade bastante diferente da que julgam ver.
A razão tem andado arredada do comportamento dos eleitorados e as suas escolhas só agravam o que já eram as dificuldades sentidas neste período histórico em que se vive a transição de uma economia de utilização ainda significativa de mão-de-obra pouco qualificada para uma outra, bastante mais automatizada, onde os operários se veem substituídos por técnicos altamente especializados.
A exemplo do sucedido com os operários dos teares de Manchester, que vandalizaram os que já recorriam à máquina a vapor, não há como impedir a evolução tecnológica. E camadas significativas das populações estarão condenadas a serem deixadas para trás se os governos não assumirem para si o papel histórico de as preparar e adaptar aos tempos que virão.
É por isso que ao ler o editorial da revista francesa não pude deixar de concluir na sorte que temos. Os perigos oriundos de todas as latitudes, seja sob a forma de fanáticos jiadistas, quer dos não menos maníacos do austericídio orçamental, coligados com os devotos do neoliberalismo na sua versão mais selvagem, ameaçam diariamente a continuidade bem sucedida do atual governo de António Costa. Mas, no último ano, com a maioria parlamentar a possibilitar políticas da mais elementar justiça, os portugueses sentiram renascida uma esperança, que os demais europeus andam a ver perdida nos contínuos ataques à confortável situação económica e social em que se julgavam mergulhados.
Pode-se dizer que, de entre todos os diversos povos europeus, deveremos ter sido os que terão conhecido uma evolução mais positiva dos índices de confiança num futuro onde se passou a encontrar espaço para o exercício dos direitos e não apenas para os dos deveres.
E o que surpreende - mas talvez não se trate de um acaso! - é a experiência portuguesa ainda não ter sido devidamente atentada por quem anda a iludir-se com as já duramente testadas soluções, que tanta desgraça causaram a todos quantos viveram o período da Segunda Guerra Mundial, quer antes com a guerra de Espanha, quer o depois, quando portugueses, espanhóis, e temporariamente, os gregos se viram oprimidos pelos antecessores dos fascistas de hoje.
Esperemos que os sucessos evidentes na governação comecem a suscitar a curiosidade dos que andam a proclamar a falência da social-democracia, mas não percebem como o progressismo está a encontrar sábia solução neste cantinho à beira-mar plantado.
Bridget Riley
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