A entrevista dada por António Costa a dois jornalistas da RTP voltou a demonstrar como o nosso jornalismo continua a ser servido por gente medíocre e ideologicamente enfeudada às direitas.
Longe vai o tempo dos grandes nomes da imprensa que, mesmo sob o jugo salazarista, nunca deixaram de impor perspetivas diversas das impostas pelo regime. Até mesmo «A Bola» servia de veículo de informação genuína sobre as realidades internas e externas, que o regime procurava calar.
A grande diferença entre essa geração e a atual é que a maioria dos que, então, trabalhavam e animavam a boémia do Bairro não tinham formação específica em comunicação social, aprendendo com o que iam vivendo. A atual, quase toda oriunda dos cursos de jornalismo, que se tornaram moda depois do 25 de abril, são socialmente ignorantes e ideologicamente preconceituosos. Assim se entende que deitem a perder uma oportunidade para ouvir António Costa falar do futuro imediato, já que os motivou a coscuvilhice a respeito da anterior administração da Caixa Geral de Depósitos, algo de que daqui a umas semanas ninguém mais se lembrará a não ser a demitida equipa de António Domingues.
André Macedo, aquele que profetizara o fim da televisão pública e agora vive à sua custa, sentia-se tão agastado com a superior conduta do entrevistado em pô-lo na ordem que, às tantas, já queria ver como contratos efetivos aqueles que nunca chegaram a existir, porque travados a tempo pelo governo ao entrar em funções. Bem poderia ouvir a proposta do primeiro-ministro para se investigar (o que anda o ministério público a fazer?) a forma como o anterior governo, muito particularmente Sérgio Monteiro e Pires de Lima, andaram a oferecer as empresas de transportes das grandes metrópoles de Lisboa e Porto a empresas privadas internacionais.
Conjuntamente com as atas das reuniões do governo de Passos Coelho com a troika, que Pacheco Pereira anda há semanas a exigir conhecer, seria bom que se apurassem os singulares benefícios que iriam auferir os referidos governantes com as benesses a tais «investidores».
Mas a RTP, televisão paga por todos nós, não se ficou por aí quanto à tentativa de maldizer tudo quanto António Costa conseguira transmitir durante a entrevista. Logo a seguir, no programa noturno em que Ana Lourenço prossegue a campanha antissocialista já há muito por si protagonizada na SIC, um painel de horrendas figuras, ligadas no passado ou no presente ao «Observador», cuidaram de encontrar matéria para distorcer, manipular e mentir quanto ao que o entrevistado dissera minutos antes. Juntar em torno da mesma mesa David Dinis, Helena Garrido, João Garcia e José Manuel Fernandes inviabilizava qualquer dialética na discussão em que todos rivalizavam por um objetivo: apurar qual deles conseguia cascar mais no primeiro-ministro.
Se na hora seguinte a qualidade do painel seria diferente para melhor em objetividade e sabedoria - já que contava com Ricardo Paes Mamede, Pedro Lains, Vítor Bento e Pedro Norton -, quem a essa hora, já tardia, estava disponível para os ouvir?
Como dizia o embaixador Seixas da Costa no twitter a a administração da RTP esqueceu-se de avisar que haveria em canal aberto na rede TDT, mais um absolutamente inesperado: esse «Observador», financiado pelos patrões para servir de altifalante das suas objeções à atual maioria governamental e que tomou de assalto a RTP3.
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