1. Acabou o último debate quinzenal do ano, que voltou a ser um passeio para António Costa com argumentação bastante para retirar fundamentos às críticas das direitas e subscrever as críticas das demais esquerdas, sobre o quanto desejaria maior rapidez nas políticas necessárias para reduzir a pobreza e aumentar o emprego, pesem embora os animadores índices ultimamente publicados pelo INE.
Fica realçado o despeito do PSD, que age com fronhas mal dispostas ao despique parlamentar, e a incapacidade de Cristas em se fazer de engraçadinha com prendas natalícias, que têm prometida a justa retribuição: a de um retrovisor para se lembrar de todas as malfeitorias praticadas pelo governo a que pertenceu. Porque soa a falso a tentativa de se voltar a arvorar em partido dos contribuintes, quando se recorda de que partido era o titular dos Assuntos Fiscais entre 2011 e 2015.
Para o ano há mais, mas presume-se duradoura a travessia do deserto por quem julgou definitivamente ganha uma guerra, que se revelaria muito mais decisiva com as batalhas deste ano. Para já nem os reformados foram condenados a ainda mais empobrecerem, nem os funcionários públicos voltaram a ser olhados como madraços dispensáveis. Faltará rever a legislação laboral, que continua a possibilitar as mais execráveis injustiças, à conta da discricionariedade com que se continua a poder despedir em Portugal.
2. O governo previu arrecadar 100 milhões de euros com o “perdão” fiscal, o resultado foi o seu quadruplo. Para quem ainda alimentava secretas esperanças quanto à probabilidade de não ver o governo cumprir a meta de 2,5% de défice no PIB, estes dados acabam com todas as dúvidas. No próximo ano a capacidade de chantagem das instituições europeias contra o governo de António Costa será bem mais reduzida...
3. O atentado de Berlim não comportará um efeito tão drástico no cenário político alemão, quanto se chegou a temer. Nomeadamente para o caos da discórdia, que Viriato Soromenho Marques previu, quando escreveu no «Diário de Notícias»: “aquilo que o camião assassino quis esmagar, derramando o veneno do medo com fria premeditação, é a capacidade de os europeus transformarem 2017 no ano de reencontro com o seu futuro comum.”
A extrema-direita, que convocou manifestações para inculpar Angela Merkel como responsável pelas mortes verificadas, assistiu a um número bastante mais significativo de contramanifestantes indignados com o oportunismo revoltante de quem não olha a meios para cumprir os seus ínvios objetivos. E, apesar de haver quem considere que o ataque causará muito mais mossa em França do que na Alemanha, precipitam-se os que já dão como inevitável uma segunda volta de Fillon contra Marine Le Pen nas presidenciais de maio. A cinco meses desse momento crucial quanto à direção tomada pela Europa nos próximos anos, ainda acredito na possibilidade de um toque a reunir de toda a esquerda francesa, com quem nada tem a ver com Hollande ou Manuel Valls.
4. A Polónia continua a assistir a manifestações quotidianas contra a deriva ditatorial do governo de direita. Bastou um ano para os eleitores compreenderem o logro em que haviam caído.
Picasso
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