Pessoalmente causa-me algum engulho que os patrões recebam a redução da TSU como benesse natalícia, tendo em conta que levam décadas de claro benefício dos sucessivos governos, quer pagando remunerações abaixo do que significava efetivamente o valor do salário mínimo, quando ele foi fixado pela primeira vez - estudos apontam que a inflação, se tivesse sido sempre refletida nesse valor, já apontaria para valor da ordem dos 900 euros! -, mas sobretudo por terem acolhido com particular entusiasmo as alterações promovidas no Código do Trabalho nos quatro anos de desgoverno de Passos, que lhes facilitou indecorosamente a possibilidade de despedirem e precarizarem quem exploram.
A Justiça mandaria que sofressem uma inflexão significativa na relação e forças, que têm com os que para eles trabalham, de forma a não reinar uma ditadura de facto dentro das empresas.
Igualmente sabemos que os salários não são o fator mais determinante dos custos globais da operação das empresas, havendo outros como os custos de energia, de matérias-primas, de distribuição, etc., cujo impacto é tão ou mais determinante para a sua rentabilidade. Por isso mesmo, quando António Saraiva apela a Arménio Carlos para que não seja demagógico, bem precisa que lhe ofereçam um espelho. Porque, na realidade, empresas incapazes de sobreviverem se não pagarem a quem nelas trabalha os salários bastantes para que vivam decentemente não merecem existir.
No entanto, surgem sempre os «mas…», que nos levam a ter de transigir com o que nos levaria a discordar numa primeira reação. Ora, para as instituições europeias em que ainda estamos inseridos, este tipo de acordo constitui um contra-argumento para com as motivações, que possam ter contra um governo situado à esquerda de todos os que estão em funções no continente.
Não é que os burocratas de Bruxelas ou de Frankfurt não persistam em levantar obstáculos por razões estritamente ideológicas, mas mais dificilmente podem proclamá-las em voz alta...
Ivan Bevzenko
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