1. Ontem formulara aqui o desejo de que Alexander Van der Bellen, o candidato antifascista às eleições presidenciais austríacas, conseguisse ter um mais do que merecido sucesso. Hoje o desejo transformou-se em realidade: a vitória confortável, que quase nenhuma sondagem sugerira possível, deverá servir de estímulo para quem não pensa inevitável a deriva extremista pressentida pelos mais pessimistas.
Agora que Hofer saiu derrotado, é altura de garantir idêntico destino para Marine Le Pen e Fillon em França, ou para Wilders na Holanda. O que passa por criar um sobressalto democrático suficientemente forte para fazer da política algo de decente em quem a maioria dos eleitores se reconheça.
2. Tem toda a razão o Pedro Marques Lopes no «Eixo do Mal»: deve-se ao PCP o não existir um movimento de extrema-direita em Portugal na dimensão do que existe em França ou noutros países europeus, ao ter conseguido atrair a si os estratos sociais sensíveis a tal tipo de discurso xenófobo e populista.
Basta olhar precisamente para o sucesso de Marine Le Pen nos antigos bastiões do PCF para compreender que fenómeno idêntico se replicaria aqui acaso o partido de Jerónimo de Sousa não soubesse ouvir os anseios da sua base eleitoral e deles tratasse de ser o ativo porta-voz.
3. No Congresso de Almada Carlos Carvalhos veio alertar para o óbvio: é tão volátil a situação da União Europeia e da sua moeda, que mal avisado andará o país, se não preparar previamente o possível desaparecimento do euro.
Compreende-se que o governo tenha de manter o discurso de fidelidade aos tratados europeus e às políticas ditadas dos diretórios de Bruxelas, mas nos bastidores importa encontrar os planos alternativos para quando se revelarem urgentes.
4. Foi precisamente o que António Costa fez com a Caixa Geral de Depósitos: depois de um mês de turbulência em torno da equipa liderada por António Domingues, tirou da cartola o antigo ministro da Saúde de Passos Coelho.
Pessoalmente não tenho a mínima simpatia por tal tecnocrata, mas consegue-se assim calar a voz às direitas até aqui apostadas em sabotarem o processo de recapitalização do banco. Depois de mostrar ser possível negociar com as instituições europeias a sua viabilização, evitando a degradação que tornaria inevitável a sonhada privatização em tempos enunciada por Passos Coelho, o governo corrige o que menos bem aconteceu nestas últimas semanas com esta matéria.
5. Porque sou impenitentemente ateu, quando tenho de assistir a uma missa - a última foi no recente enterro da minha mãe! - coloco-me de pé e em silêncio, as mãos juntas à frente, em sinal de respeito por quem acredita na lengalenga emitida pelo padre de serviço.
Se fosse deputado na Assembleia da República teria sido essa a postura perante o rei espanhol ali convidado a discursar. Assim mo ditaria o sentimento republicano e o respeito pela memoria de quantos morreram durante a Guerra Civil em defesa do regime esmagado pelo sinistro Franco.
Não concordo, obviamente, com a atitude dos deputados do Bloco: não tinham de bater palmas, mas deveriam ter-se levantado e adotado a atitude dos seus vizinhos comunistas.
Mas pior ainda foi o comportamento dos deputados do PSD durante as comemorações do 1º de dezembro. Porque não estava ainda no país, desconhecera o sucedido, mas visto à distância de alguns dias, o que ocorreu com tal decisão de Passos Coelho & Cª nem sequer chega ao nível da indigência mental. É pura e simplesmente estupidez..
6. Igualmente tema a ocupar grande espeço mediático ao regressar a casa, foi a da morte da equipa brasileira de futebol e dos jornalistas, que a acompanhavam a Medellin. Abstraindo-nos dos seus aspetos mais emotivos há algo que não deveremos esquecer: a fase atual do capitalismo - com o que significa em ganância e desprezo pelas consequências humanas das suas decisões de gestão -, assume carácter criminoso. O lucro pelo lucro não pode justificar este tipo de comportamento empresarial.
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