1. O atentado de Berlim vem confirmar a coligação de interesses entre o terrorismo jihadista, que muito provavelmente lhe esteve na origem, e a extrema-direita logo apressada a aproveitar-se, qual abutre, dos cadáveres e dos feridos para valorizarem a sua agenda ideológica.
No «Expresso» desta tarde Daniel Oliveira emitia esta tese, que não carece de grande demonstração: “Há um acordo tácito, nem escrito nem negociado, entre o terrorismo e a extrema-direita europeia: cada atentado permite à extrema-direita crescer, cada crescimento da extrema-direita permite aos islamitas captarem novos elementos.
Os seus interesses são de tal forma confluentes que as agendas coincidem no tempo, tendo os terroristas a amabilidade de organizar os atentados tendo em conta as agendas eleitorais de cada país.
É por isso absurdo falar de injustiça do atentado, tendo em conta a política de Merkel em relação aos refugiados. É exatamente contra posições como as de Merkel que estes atentados se fazem. Para derrubar os moderados e dar força à extrema-direita, que entra no jogo do ódio e da intolerância que alimenta os fanáticos religiosos.”
O que está a faltar é a denúncia enfática desse conúbio de forma a deixar isolados quem, indecentemente, deles se aproveita. Existe uma imperdoável incompetência das democracias em denunciarem o quanto aproxima quem detesta os valores e padrões de vida ocidentais e os que deles se arrogam de se constituírem nos seus melhores guardiões, estando aqui bem exemplificada a conhecida tese da ambígua cumplicidade dos extremos.
2. A OCDE produziu um documento particularmente encomiástico para com o governo anterior e que PSD e CDS pretendem ver escarrapachado na abertura de todos os telejornais.
Tendo em conta que o ridículo Álvaro Santos Pereira é o diretor do Country Studies Branch on Economics Department, torna-se lícito questionar se foi ele o autor de tal documento, cuidando assim de elogiar a obra própria e a dos ex-comparsas.
A exemplo de Vítor Gaspar no FMI, ele é um dos pontas de lança das direitas nacionais para, sob a capa aparentemente inquestionável das organizações internacionais para que se transferiram, prosseguirem o trabalho de cabeças de turco dos interesses para que, efetivamente, trabalham.
3. No «Público», Carlos Carvalhas assinou um texto pertinente sobre a necessidade de nos precavermos do futuro próximo, preparando-nos para a saída do euro. Mas o lado mais interessante do seu artigo ocorre logo no seu início, quando dá o dia 21 de outubro transato como o do fracasso de um golpe à brasileira, já sem recurso aos militares, mas com as pantufas de quem, interna e externamente, andou a somar declarações falsas sobre a situação económica e financeira do país para que a DBRS impossibilitasse o Estado Português de continuar a aceder ao mercado dos investidores em dívida soberana.
Voltando à questão do euro, Carvalhas considera-o uma moeda demasiado cara para muitos dos países da União Europeia, que entretanto viram as respetivas populações empobrecerem. Para um índice 100, que define o rendimento médio do cidadão europeu, um alemão contava com 116,7 em 2005 e com 126 em 2015. Comparativamente os italianos passaram de 105,6 para 5,1 e os portugueses de 79,1 para 77,1 nesse mesmo período.
Numa altura em que os 5079 milhões de saldo primário, que o país conseguirá em 2017, seriam necessários para investir na capacidade produtiva do país, é inaceitável que, desde 2007, já tenhamos pago 56 500 euros em juros, lucros e dividendos sobre a valor total da dívida.
Bruegel, O Triunfo da Morte
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