Aonde já lá vai a simpatia, para muitos autêntico fervor, que a ideia europeia suscitou em nós. A ideia de que a CEE primeiro, a UE depois, constituiria uma sociedade livre e desenvolvida sobre cujo exemplo todos os demais países do mundo encontrariam modelo para replicar, esvaiu-se com a sua transformação num feudo de burocratas, criador de uma moeda única, mas onde se esqueceram os cidadãos.
A ascensão de movimentos fascistas põe em causa a própria conceção da democracia representativa pois, utilizando-a, estão à beira de conseguir os seus fins. Foi assim com Trump do outro lado do Atlântico, com Orban na Hungria, com Erdogan na Turquia e pode muito bem repetir-se em breve na Holanda, na França, quiçá mesmo na própria Alemanha.
Neste contexto a Europa interroga-se sobre a pertinência dos seus valores fundadores, o que ameaça a sua coesão e o que pode ser feito para mudar.
Ulrike Guérot, diretora do Laboratório para a Democracia Europeia, que tem sede em Berlim, e assina o ensaio «Porque é que a Europa deve tornar-se numa República. Uma Utopia Política.», lança o slogan «A União Europeia morreu, Viva a Europa!».
Na sua proposta há que fazer uma rutura total com o monstro em que a União se tornou, havendo que criar um novo recomeço: “Reconstruamos a Europa como uma rede de regiões culturais e históricas, sob um teto republicano comum, que seja a antítese dos fantasmas nacionalistas dos populismos de direita.”
A Europa só não repetirá a história dos nacionalismos se reivindicar para si esse papel de vanguarda da união entre todos os cidadãos do mundo.
“É preciso que nos voltemos a apaixonar pela política”, reconstruindo a Democracia a partir da base, o que passa por uma unidade jurídica comum respeitadora da diversidade cultural, mas em que todos se sintam imbuídos dos direitos republicanos, desde o da Liberdade até aos que a fundamentam através do acesso a uma qualidade de vida digna.
A Utopia proposta por Ulrike Guérot é a de uma República Europeia, espécie de Eutopia, assente no princípio político da igualdade para todos os cidadãos e em que o bem comum sirva de seu principio orientador.
Pretende-se que o continente evolua para se tornar num espaço pós-nacional, verdadeiramente democrático e justo, mediante a participação de todas as gerações.
Nega-se a possibilidade de ressurreição das atuais instituições europeias: a teoria dos sistemas já demonstrou que, alcançado um ponto crítico de complexidade, eles deixam de ser capazes de se renovarem. Por isso não é vã a expetativa de vê-las ruir a curto prazo, desaparecendo para sempre.
O que Ulrike Guérot, e os que como ela pensam, propõem é uma mobilização republicana para dar resposta eficiente a essa crise iminente.
Sem comentários:
Enviar um comentário