Na última semana do ano a RTP andou a emitir o filme assinado por Margarida Metello sobre a Reforma Agrária, que sacudiu o Alentejo em 1975 e se prolongou até António Barreto iniciar o seu assassínio, depois concluído com sucessivas revisões da lei por ele criada no I Governo Constitucional.
A realizadora ouviu os que ocuparam as terras e quem delas se viu expulso numa tentativa de objetividade meritória, mas incapaz de tocar nos aspetos mais importantes, aqueles que poderiam corresponder à aprendizagem das lições sobre o sucedido.
É verdade que todo aquele processo foi caótico, escapando até às tentativas do PCP para lhe dar alguma consistência. Conclui-se que os dirigentes das UCP’s poderiam saber muito de lavoura e pecuária, mas nada percebiam de como gerir eficientemente as terras ocupadas. Demonstra-se que uma boa parte do Alentejo estava subaproveitado antes do 25 de abril, com latifúndios improdutivos e os seus proprietários a avançarem para a sabotagem ativa dos objetivos da Revolução tão só viram ameaçados os seus privilégios. E não é difícil discernir que, da forma como foi concretizada, a Reforma Agrária correspondeu ao saltar da tampa de uma panela de pressão há muito a ferver com as desigualdades, que reduziam grande parte da população a situações de miséria extrema.
À distância de quatro décadas podemos conjeturar o que teria acontecido se o MFA tivesse cuidado de pôr à disposição das UCP’s técnicos qualificados, que conseguissem criar modelos de gestão passíveis de rentabilizar as terras ocupadas. O quanto se teria combatido a desertificação desse sul enjeitado se o Alqueva se tivesse tornado tal realidade, que a possibilidade de regadio possibilitasse a mudança para culturas mais rentáveis. O país teria poupado bastante na importação de alimentos e os níveis de vida poderiam ter sido outros.
Podemos considerar que isso equivaleria a não ter sido metido o socialismo na gaveta depois do 25 de novembro. Que a América, então muito ativa através do seu agente Carlucci, e a Europa da CEE, logo apostada em subsidiar ativamente a economia portuguesa conquanto ela se orientasse para o respeito pelos sagrados preceitos capitalistas não tivessem conseguido impor as respetivas agendas. Teria sido Utopia, que ficou por concretizar, mas ainda saudosamente recordada por quem acreditou na iminência de uma sociedade de tipo novo.
Como tal não aconteceu o resultado é o que se vê: um Alentejo dividido entre algumas empresas que mecanizaram a produção e a adequaram às leis do mercado, outras terras que servem de meras coutadas para caçadores endinheirados e uma boa parcela de território onde apenas se aproveita a cortiça e a carne dos porcos e do gado bovino ali a pastarem. À exceção dos mais velhos a população desertou e nunca se cumpriu o desígnio de ali residir o celeiro e o pomar de todo o país.
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