1. Trump já conseguiu pôr o planeta contra si: nem nos mais escandalosos momentos históricos das agressões imperialistas contra outros países (Iraque, Líbia, Granada, Jugoslávia, etc) a unanimidade foi tão óbvia, até por algumas delas surgirem a coberto da NATO ou de outros aliados de circunstância.
Temos, pois, que dar razão a Pacheco Pereira, quando o considera um «revolucionário» com os efeitos decorrentes dessa constante vontade de disrupção. Veja-se o caos instalado nos aeroportos ou a confusão nos serviços federais, desconhecedores quanto à forma de aplicarem procedimentos a contrario de todas as suas práticas até aqui.
2. É um reparo que não está a passar em claro: a não inclusão do Egito, Arábia Saudita e Líbano na lista dos países proscritos pela decisão de Trump quanto à proibição de entrada dos seus cidadãos no espaço norte-americano. É que vieram deles os autores dos atentados de 11 de setembro de 2011! Mas tudo fica mais claro quando se sabe serem países onde ele tem negócios em curso.
3. Sorte aziaga para os que apoiam ou querem beneficiar com o trumpismo. Theresa May bem procura tornar-se na sua dócil marioneta, mas logo se vê a contas com ricochetes capazes de a fazerem submergir na inconsequência das suas intenções: não só milhares de britânicos reagem com indignação quanto à hipótese de terem de acolher o ditador em visita de Estado, como a primeira-ministra escocesa encontra clima favorável para, perante as previsíveis consequências do Brexit, pôr a Escócia ao fresco da subordinação à coroa inglesa.
Pretendendo levar por diante uma agenda só racional para as suas sinuosas meninges, Johnson & Farage vão conseguir que o país de sua majestade se reduza, em dimensão e influência, à insignificância dos seus extremistas de direita.
4. Outra vítima da decisão do inquilino da Casa Branca foi um deputado conservador inglês, com dupla nacionalidade iraquiana, que se evidenciara como um dos entusiastas do Brexit. Ele terá sentido na prática o que significa a implementação dos valores que defende ao ver-se impedido de entrar em território americano!
5. Outra vítima da adesão ao trumpismo é a Uber que quis aproveitar-se da greve dos taxistas do aeroporto JFK para a frustrar, ademais aumentando as tarifas praticadas juntos dos clientes. Denunciada a trafulhice, há um movimento viral a mostrar quem anda a eliminar a aplicação dos seus smartphones.
6. O provérbio português que diz bom de mim fará quem atrás de mim virá, irá ganhar crescente evidência com a sucessão das manifestações de arrogância e prepotência de Trump. Obama que até nem foi um grande presidente - muito embora tenha ficado tolhido nos dois mandatos pelas maiorias adversas no Capitólio - já começou a reagir criticamente contra o sucessor.
Perante a imprevisibilidade, que a errática atuação de Trump, ditada por estímulos incoerentes, acarretará, será previsível o desejo de regresso à normalidade anterior. A quatro anos de distância, e embora desde já anseie pela eleição de Elizabeth Warren para 46º presidente dos Estados Unidos, será crível que haja quem pressione Obama para regressar à Casa Branca.
7. Admiráveis têm sido os advogados, que acorreram aos aeroportos para proporem os seus serviços pro bono aos passageiros ameaçados de sumária expulsão em cumprimento da incendiária decisão de Trump.
Assim como as dinâmicas da sociedade civil americana conseguem efeitos assustadores se direcionadas para o pior, batem todos em generosidade e eficiência quando orientadas para os valores éticos mais elevados.
7. Na crónica de ontem no «Expresso», Daniel Oliveira recordava uma das regras básicas da Democracia a que Trump é alheio: “nenhuma maioria circunstancial tem o direito de limitar a liberdade da minoria ou impedir que novas maiorias se formem”.
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