1. Porque é que as direitas falham na expectativa de garantirem o crescimento económico a partir do corte nos salários? O período de ajustamento, sob controle da troika, causou uma diminuição da procura agregada, que implicou uma forte subida do desemprego. Se associado a esse fator soma-se o controlo dos preços, fazendo-os estagnar, o endividamento das empresas tende a crescer e a alavancar, ainda mais, esse desemprego. Que corresponderá a nova descida no consumo interno.
Durante os governos de Passos Coelho os patrões nunca se queixaram das leis laborais ou da falta de crédito como argumentos para não investirem em novos produtos ou aumentarem os volumes então produzidos. A razão sempre a disseram relacionada com a falta de procura para os stocks, que estavam a acumular nas empresas, e cujo escoamento não se verificava. Razão para, igualmente, dispensarem novos progressos técnicos, que aumentassem a eficiência da produção.
Em desespero de causa, e sem solução para lhes apresentar, Passo Coelho aconselhou os nossos jovens a emigrarem, O que significou uma séria hemorragia do que de melhor se contava no capital humano disponível para o desenvolvimento do país.
Concluiu-se que as “soluções” engendradas pelos artífices do ajustamento foram péssimas para o país, que empobreceu aceleradamente em riqueza, em investimento e em recursos humanos.
Há muitos economistas, invariavelmente integrados nas universidades mais enfeudadas ao discurso neoliberal, que juram por modelos demonstrativos da interligação entre a diminuição do desemprego e a liberalização do mercado do trabalho. Mas que valem tais modelos, quando se comprova o pecado capital a eles associados? De facto os seus autores começam por estabelecer as conclusões desejadas para depois jogarem com as variáveis mais «simpáticas», que comprovem as suas teses. Que lhes servem para virem depois para os media defender a irrefutabilidade das conclusões formuladas.
Numa altura em que esse logro está a ser progressivamente desvendado, é altura de etiquetar de «obsoletas» as propostas neoliberais e atirá-las para o caixote do lixo.
2. O texto anterior suscitou um comentário do Jaime Santos, que passo aqui a transcrever: “Não sendo um entendido na matéria, não me parece que o neokeynesianismo tenha diretamente que ver com os liberais neoclássicos da escola de Chicago. A síntese neokeynesiana tentou simplesmente explicar porque as ideias mais antigas falharam na década de 70, o que levou à denominada 'stagflation'. Mas a existência de uma taxa de desemprego estrutural é um facto da teoria.
Mas e se as conclusões da Ciência Económica, por muito imperfeita que seja, se opuserem às nossas expectativas ideológicas ou àquilo que consideramos ser a 'Boa Sociedade'? Metemos a cabeça na areia e ignorámos essas conclusões? É que os Socialistas de Antanho fizeram isso e veja só o que aconteceu à URSS…”
Concordo obviamente com essa distinção entre os neokeynesianos e os neoliberais da escola de Chicago, embora entenda os primeiros como continuadores dos segundos, cujos erros mais crassos foram por eles retificados … ou assim pretenderam.
Quanto às conclusões da Ciência Económica, haverá que clarificar até que ponto os modelos em que assenta são irrepreensíveis na objetividade - e como tal devem ser respeitados - ou se surgem demasiado enviesados pelas distorções neles implementadas para garantirem resultados e indicadores de acordo com os preconceitos ideológicos dos seus proponentes. Está, pois, por fazer uma epistemologia mais rigorosa da investigação económica.
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