1. Passos Coelho bem poderia ter ficado calado, que passaria melhor despercebido o contraste entre a proatividade de António Costa em comparação com a sua apatia quanto às questões europeias. O atual governo aposta assisadamente na transformação da União Europeia hoje desprezada pelos seus cidadãos, enquanto o anterior conformava-se ao papel de marionete do sr. Schäuble.
Mas, sempre despeitado, nem sempre Passos Coelho o consegue disfarçar, e por isso as críticas à realização da cimeira, que reuniu os países do sul da Europa, dificilmente será apreciada pela generalidade do eleitorado, que deseja manter a ligação ao projeto europeu, mas não a este em particular.
2. Irritam-me são os tiques puritanos de gente do tipo da glosada por Ary dos Santos em célebre poema, que os definia como «feitos em ceroulas».
Conhecemos bem demais o estereotipo em que se inserem: orgulhosa da sua pública virtude, esconde muito frequentemente sórdidos vícios privados.
Perdidas sucessivas batalhas nas chamadas «causas fraturantes», viram agora a Educação como terreno fértil para as suas sinistras ações de censura. Semanas atrás atiraram-se como gato a bofe contra manuais em que tresliam supostos convites à prática do aborto. Agora, feita a conveniente zizania, e porque a viram razoavelmente bem sucedida, atiram-se a um dos livros sugeridos como leitura recomendada aos mancebos e às donzelas de 13 e 14 anos: «O Nosso Reino» de Valter Hugo Mãe.
O pobre do escritor, supostamente culpado de infligir ás criancinhas dolosos crimes de apelo à perversa fornicação, já se veio defender dizendo não se recordar de “ter usado uma perversão tão grande que possa representar a morte do Pai Natal.”
Qualquer progenitor sabe que, os adolescentes têm hoje uma cultura e um vocabulário, eventualmente utilizados apenas entre amigos, e que o fariam corar de vergonha se se deixasse de hipocrisias e deixasse de acreditar nas expressões cândidas por eles tomadas quando entram em casa. Mas os encarregados de educação ofendidos, não só escusam-se cobardemente a dar a cara e a identificação das suas ofendidas pessoas como se revelam torpes farsantes apostados em imporem a agenda falsamente puritana de uma Igreja bolorenta.
3. Nos jornais deste fim-de-semana parece unânime a ideia de ter havido um reforço da maioria parlamentar depois da cambalhota do PSD a respeito da TSU. Colhendo dividendos imediatos pela atrapalhação suscitada ao governo, Passos Coelho já só parece apostado em conservar consigo os indefetíveis porque os demais, aqueles que oscilam entre o PSD e o PS, não ficarão insensíveis ao vale-tudo de que ele agora se arroga.
Por seu lado as esquerdas voltaram a ser alertadas para a necessidade de procurarem os mínimos denominadores comuns em vez de explorarem as máximas divergências em que se dividem.
4. Na imprensa ainda continua viva a auspiciosa intervenção do já não muito jovem empreendedor da «Padaria Portuguesa» em noticiário da SIC. O mínimo que se pode esperar dos seus habituais clientes é terem a decência de procurarem alternativa noutros concorrentes mais cautelosos a exprimirem a avidez na maximização da exploração dos que para eles trabalham, porque dar substância à oca mundividência do trafulha só os desqualifica.
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