Se há males que vêm por bem, a eleição de Trump para a Casa Branca significou o dobre de finados para o TTIP, que iria possibilitar o alargamento das normas legais norte-americanas ao contexto europeu e dar às multinacionais um poder acrescido na imposição dos seus interesses corporativos.
Um bom exemplo do que estava em curso era a revisão em alta dos parâmetros aceitáveis do glifosato como herbicida em todas as explorações agropecuárias europeias. Muito embora a recente compra da norte-americana Monsanto pela alemã Bayer possa significar uma jogada empresarial de molde a criar um cavalo de Troia no espaço europeu, que terá mais “sensibilidade” para aceitar os argumentos de uma multinacional aqui radicada do que a de outra situada além-Atlântico.
Hoje existem estudos, nomeadamente do francês Gilles-Éric Seralini, demonstrativos do potencial dessa substância como cancerígena para quem a absorve no seu organismo por via alimentar. No entanto as autoridades europeias têm-nos desvalorizado e ignorado e andavam a preparar-se para dar satisfação aos muitos lobistas instalados em Bruxelas para os quais só interessam os lucros das indústrias, que representam, independentemente dos efeitos nefastos na saúde dos consumidores.
Para além do cancro o glifosato parece estar indubitavelmente associado a alterações hormonais com efeitos na capacidade de reprodução dos seres vivos até suscitando-lhes malformações terríveis. Nas vastas extensões de terras provocam um empobrecimento dos solos - quer pela redução dos minerais e bactérias absorvidos nas plantas semeadas como nutrientes fundamentais para o seu crescimento, quer na limitação do importante sistema radicular.
Nos EUA houve mães a associarem altos níveis de glifosato a sintomas autistas nos seus filhos e outras, na Alemanha, constataram que, apesar dos cuidados com a alimentação, o leite por si produzido também continha doses assustadoras de tal herbicida, comprovando-se a extensão da sua existência na cadeia alimentar.
É claro que a Monsanto, a Sygenta e outras empresas, que garantem enormes lucros à custa da comercialização dos herbicidas e das sementes para todos os continentes, negam essas evidências, contrapondo-lhes estudos alternativos por si encomendados com as conclusões já pré-negociadas com os “cientistas” principescamente pagos para servirem de cabeças de turco de tais desmentidos, mas dificilmente podem travar o crescente descontentamento com os crimes ecológicos e de saúde pública a que vêm sendo associadas.
Ademais as ervas daninhas eliminadas pelo glifosato, têm dado mostras de resiliência, conseguindo reciclar-se em espécimes resistentes só combatíveis com doses de toxicidade mais acrescida. Com os danos ambientais e os custos económicos consequentes...
A formatação da agricultura às regras e comportamentos do capitalismo selvagem, está a causar um problema muito sério para o futuro da Humanidade. Porque a promessa de produções cada vez mais eficientes, capazes de acompanhar o crescimento demográfico e eliminar o espectro da fome no planeta está a revelar-se falácia, que os seus interessados querem esconder enquanto lhes for possível embolsar os lucros possíveis até serem confrontados com a publicidade enganosa de que foram arautos durante tantos anos. Mas, nessa altura, lá dirá o ditado popular que de pouco vale pôr trancas à porta depois da casa arrombada.
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