1. Um provérbio popular muito comum, defende a inevitabilidade de saídas de sendeiro a quem tem entradas de leão. É o que Trump me lembra com esta sucessão de decretos destinados a virar de pantanas a ordem constitucional norte-americana e a dar fé do cumprimento das mais sinistras promessas de campanha.
Há quem o considere ameaça muito séria e têm razão, porque muitas pessoas pagarão direta ou indiretamente os custos das suas políticas. Mas, por outro lado, a inevitável descredibilização dos efeitos dessas políticas poderá suscitar uma vacina eficaz para evitar a tentação do regresso de tal tipo de cromos ao topo de cargos governativos nos países ocidentais. Porque, por mais que queira, Trump não conseguirá ter os meios que Viktor Orban ou Recip Erdogan colocaram ao seu dispor para impor ditaduras em países pouco dotados para evitar derivas totalitárias, e mesmo estes durarão o tempo necessário para que a sua pútrida ação tenha a correspondente resposta contrária.
Portando-se como um menino birrento, que teima nos caprichos, Trump já depara com as negas dos que estão em condições de o desfeitearem nas intenções: o presidente mexicano já cancelou a visita de Estado a Washington, Justin Trudeau avisa só aceitar negociações tripartidas do NAFTA, escusando-se a conciliábulos bilaterais, e o novo mayor de Phoenix, no Arizona, rejeitou colocar a polícia local ao serviço da política de expulsão de emigrantes decidida pela Casa Branca, mesmo que isso lhe custe financiamentos federais.
Julgando ser capaz de dobrar o mundo, moldando-o de acordo com a sua escala de preconceitos, não imagina as tempestades vindouras causadas pelos ventos que começa a semear…
2. Em França o candidato da direita à eleição presidencial está em apuros, porque se soube do emprego fictício por ele criado para ter a esposa paga principescamente como assistente parlamentar durante oito anos. No total ela terá embolsado meio milhão de euros sem ninguém ter dado pela sua presença no local de trabalho.
À partida será Marine Le Pen a ganhar com esta notícia, que dará razão às denúncias sobre a corrupção dos políticos dos partidos do poder. Mas não perco a esperança de vê-la derrotada por quem com ela se defrontar na segunda volta.
Gostaria que fosse Hamon ou Melanchon, mas muito provavelmente será Macron. Entre uma fascista e um oportunista austericida a escolha é difícil, mas pendo para este por comportar menos riscos para a continuidade das regras fundamentais da democracia. E os socialistas terão o período de nojo do poder para se reinventarem, deitarem às urtigas as tentações terceiradesviantes de Valls e Hollande e apresentando-se em força com candidatura credível para o próximo quinquenato.
3. Animadora é a sondagem da televisão alemã, que dá Martin Schulz em igualdade com Angela Merkel na preferência dos eleitores para o cargo de chanceler.
Tendo oito meses por diante para afirmar a sua candidatura, esmagar os argumentos da extrema-direita, para a qual as trumpices tenderão a ser devastadoras como publicidade negativa, e aproveitar o cansaço por uma Merkel, que não dá mostras de ter discurso mobilizador e convincente, a esquerda alemã poderá ajudar a constituir uma espécie de fénix desta União exangue pelas tropelias dos donos do Eurogrupo e constituir-se como o interlocutor privilegiado da China na definição de regras mais justas para o comércio mundial de que os Estados Unidos e a Inglaterra se dissociam.
4. Uma breve conclusão para dar razão ao otimismo: em Itália o palhaço Grillo dissociou-se do putativo aliado Matteo Salvini, da Liga do Norte, por … ser fascista!
Trump anda a gerar o clima propício a que os fascistas se tornem infrequentáveis até por aqueles com quem pareciam ainda há pouco andar com eles nas palminhas!
Sem comentários:
Enviar um comentário