Em 2011, quando a derrota do PS nas legislativas, determinou a necessidade de escolher um novo líder, o meu apoio foi para Francisco Assis. Sem entusiasmo, mas porque Seguro representava tudo o que mais detestava no partido onde entrara um quarto de século antes.
Na altura Assis até me era simpático pela forma desenvolta como, enquanto líder parlamentar, soubera contrariar os argumentos da direita contra a governação de José Sócrates.
Não dera então grande importância às argumentações contra os partidos à esquerda na Assembleia até por os considerar idiotas úteis dos intentos do lado contrário, que precisavam da sua persistente ação contestatária nas ruas e no hemiciclo para virem a por cobro ao que restava do espírito da Revolução de Abril na realidade portuguesa.
Os tempos mudaram, tornou-se possível uma concertação de objetivos entre os socialistas e as demais esquerdas, mas Assis ficou preso numa cápsula do tempo donde espreita para a realidade atual, e a não consegue ver senão de acordo com a perspetiva maniqueísta dele característica. Por isso aproveita as crónicas no «Público» para um permanente apelo à rutura do Partido com os que lhe garantem a possibilidade de concretização de boa parte do programa. Porque Assis não quer consciencializar quanto os partidos irmãos definharam com os compromissos com a direita, continuando a bater-se denodadamente pelo regresso à lógica do Bloco Central.
Na crónica de hoje ele conclui o texto com novo apelo a essa rutura acenando com a possibilidade de se conseguirem resultados eleitorais passíveis de libertarem o partido dos seus atuais compromissos com o Bloco e a CDU. Vale a pena lermos esse tipo de argumentário: “o país parece caminhar para um impasse. Na falta das duas maiorias, que seriam simultaneamente complementares e antagónicas, o Governo corre o sério risco de se instalar numa situação de paralisia.
Qual a saída para tão precária situação? Por muitos custos que possa ter, não vislumbro outra que não passe a curto ou médio prazo pela realização de eleições legislativas antecipadas. Curiosamente, se elas se realizassem no curto prazo provavelmente proporcionariam ao PS a possibilidade de obter a legitimidade que agora não tem para agir, de facto, como partido charneira nesta fase da nossa vida democrática.”
Perante isto, e excluindo a possibilidade de se ter tornado lerdo, existe aqui uma estratégia pérfida por parte de Assis, porque imaginemos que seria assim como ele diz, ou seja que a direita não aproveitaria para lançar uma campanha em torno do tópico »nós não dizíamos, que eles não se iam entender?» e que, de súbito, os sindicatos da CGTP não acordavam da aparente letargia para mobilizar quem não estaria disposto a ver novamente os seus direitos revogados e as reformas cortadas?
Com as esquerdas decididas a não embarcarem em novos compromissos com o PS, teria este melhores cúmplices em Passos Coelho ou Assunção Cristas? Alguém no seu estado normal consideraria que, por esse passe de mágica, todos os supostos impasses se resolveriam e nós contaríamos com virtuosas reformas estruturais e flexibilizações - que sabemos sempre a quem doem! - capazes de cativarem investimentos avultados de “honestos” capitalistas para gerarem emprego e crescimento económico a uma dimensão nunca vista?
A evolução ideológica de quem apoiei em 2011 suscitaria comiseração se a não soubéssemos parte de uma estratégia, que explica bem a razão porque tem direito a uma página inteira do jornal da Sonae e a chamada para a primeira página.
Assis desconhece a evolução que tem conhecido o Partido nos últimos anos: sobram nele muitos anticomunistas primários e até gente capaz de se persignar quando se fala em marxismo, mas também sobram muitos que acreditam nas vantagens para o povo português deste entendimento das esquerdas. E que defenderão a continuidade de tal compromisso, mesmo que, nas eleições de 2019, o PS chegue à maioria absoluta.
Porque sobra uma outra certeza: as direitas lusas não acertaram o passo com a História e continuam presas a preconceitos ideológicos cujos efeitos e resultados já se conhecem bem demais.
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