quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Uns mágicos trafulhas

Nos anos imediatos à Revolução de 25 de abril as bancas dos jornais e os escaparates das livrarias, começaram a ser inundados de publicações, que afiançavam a existência de realidades muito para além do que conseguíamos divisar.
Um livro, «O Despertar dos Mágicos», tornou-se num incrível best seller  e atrás dele surgiram os de Robert Charroux e de outros esdrúxulos autores, que nos pretendiam fazer crer na possibilidade de serem reais os mais imaginativos dos cenários ulteriormente desenvolvidos em séries como os «X Files».
Quando toda a atenção deveria estar concentrada nas lutas laborais nos campos ou nas cidades, um conjunto de argutos conjurados decidiram pôr imensa gente a olhar de nariz para o ar para detetar eventuais discos voadores ou punham outros crédulos a acreditar em teorias excêntricas sobre a Atlântida ou as civilizações extraterrestres, que explicariam as arquiteturas das pirâmides do Egito, dos Maias ou os traços alegadamente só visíveis do céu situados algures no Peru.
Como nada escapava a essas mistificações, também os Templários, as estátuas da Ilha de Páscoa ou as ruínas de Stonehenge eram convidadas para a festa, normalmente direcionada para a rejeição das explicações mais racionais em proveito das que só encontravam lógica nas desmioladas cabeças dos seus proponentes,
Não nos disseram na altura, mas muitos desses «cientistas» do paranormal tinham atrás de si conivências mais do que suspeitas com movimentos de extrema-direita, se não mesmo nazis.
A explicação para a profusão de tão abundante literatura estava na necessidade dos suspeitos do costume em afastarem tanta gente quanto possível da consciência da luta de classes. Enquadravam-se numa estratégia mais lata, que incluía a chegada de prosélitos de múltiplas seitas, desde as evangélicas às mórmons, dos cientologistas aos manás, todos eles dotados de lautos orçamentos, sabe-se lá financiados por quem, mas todos eles apostados em criarem seguidores, que se desinteressassem dos sindicatos e de outras organizações conotadas com a esquerda.
Desde essa época que, quando ouço  denúnicas de teorias da conspiração fico, por natureza desconfiado, embora a criação de casos como o da Casa Pia (sobretudo na fase inicial, quando a intenção passava por lançar suspeições sobre dirigentes socialistas!) ou a da Operação Marquês me façam vacilar nesse ceticismo. Admito que sejam exceções de uma regra, que manda desconfiar seriamente de tão abstrusas teses.
Uma delas, a dos traços de condensações deixados pela queima de combustíveis dos aviões a jacto, tem alimentado as mais inusitadas campanhas de denúncia de demoníacas intenções governamentais, mas foi agora denunciada como uma das mais comuns vigarices em que muitos acreditam. Segundo tal abordagem, uma em cada seis pessoas interrogadas, está convencida da tese de distribuição de produtos químicos na atmosfera para envenenar quem permanece no solo ou para alterar as condições meteorológicas.
A equipa de investigadores da Universidade de Calgary desmontou a argumentação dos defensores da conspiração, embora ciente de que eles jamais se darão por vencidos: é que, quem envereda pelas explicações desmentidas pelos cientistas, facilmente conota estes últimos com quem comanda o condicionamento da realidade, dando-os como cúmplices da conspiração.
Na realidade esse tipo de trapaça intelectual mais não faz do que o jogo de quem aposta na ignorância obscurantista.

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