Salafismo, fundamentalismo, jiadismo, wahabismo: têm sido tão variadas as expressões utilizadas nos últimos anos para qualificar o radicalismo islâmico, e às quais vale a pena dedicar a nossa atenção de forma a detetar-lhes as semelhanças e distinções.
O salafismo e o wahabismo coincidem na intenção de purificarem o islão sunita de forma a devolvê-lo à ortodoxia definida com a sua escola mais rigorosa. Isso traduz-se na estigmatização do islão popular e tolerante, que ainda tem tanta relevância no mundo árabe onde era maioritário há cinquenta anos, e pela hostilidade agressiva contra os xiitas e os sufis a quem acusam de porem em causa o principio da unicidade divina, o Tawhid, ao adorarem santos.
O wahabismo está associado à História da Arábia Saudita porque, desde a sua origem, resultou da cumplicidade do poder político com os ulemas, considerados como os detentores da doutrina religiosa. No entanto, a sua importância só aconteceu com a sua designação como religião oficial do Estado resultante da conquista dos lugares santos do Islão entre 1925 e 1926. e que lhe deu o ensejo de se apossar simbolicamente do poder do salafismo.
Mas, a partir dos anos 60, o salafismo emancipou-se da tutela saudita, tornando-se num fenómeno autónomo, rejeitando a sujeição à sua monarquia.
O jiadismo constitui fenómeno à parte, porque nasce do projeto revolucionário oriundo dos Irmãos Muçulmanos, que surgiu em 1928 no Egito colonial, e cujo objetivo era o de recriar o califado.
A confraria visava mais fins políticos do que propriamente religiosos, o que lhes valeu a rejeição dos salafistas por permanecerem indiferentes às questões da pureza teológica. Mas, a partir dos anos 50, apareceu um ramo da Fraternidade, liderado pelo teórico Sayyd Qutb, que defendia o derrube de Estados tidos como heréticos, substituindo-os por outros de fé islâmica. Nascia assim o jiadismo moderno como conjugação das ideias de Qutb com as do wahabismo e que se viria a expressar na Al Qaeda e no Daech.
No contexto da sua Guerra Fria com o Egito de Nasser e do seu projeto de um panarabismo laico, os sauditas irão instrumentalizar o projeto imaginado pelos reformistas do século XIX e ambicionar a criação de uma supernação muçulmana capaz de se opor à voracidade do Ocidente. Para tal criaram a Universidade de Medina em 1961, a Liga Islâmica Mundial em 1962 e a Organização da Conferência Islâmica em 1969, através das quais passaram a distribuir cassetes, vídeos e programas emitidos por satélite ou pelas redes sociais para fazerem do wahabismo a nova ortodoxia do Islão. É esse o ambicioso plano da aristocracia de Riade.
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