Nos anos 60 e 70, a Arábia Saudita procurou cooptar todos os movimentos islamistas existentes no mundo sunita, ambicionando liderar uma grande organização internacional deles representativa. Para tal convidou muitos dos líderes de tais movimentos a passarem temporadas no seu território, o que significou milhares de Irmãos Muçulmanos do Egito e da Síria a aí se prepararem para combaterem os respetivos regimes.
Nos anos 80 também apoiou os movimentos afegãos, que reivindicavam a sua adesão ao islamismo sunita, dando-lhes apoio financeiro para combaterem os soviéticos.
Os anos 90 trazem-lhe, porém, engulhos inesperados com os Irmãos Muçulmanos a associarem-se aos salafistas para, em conjunto, porem em causa a legitimidade do regime monárquico saudita, sobretudo quando o rei Fahd pediu ajuda aos norte-americanos contra a ameaça iraquiana, que acabara de invadir o Koweit.
Bin Laden foi um dos jovens salafistas, que se insurgiu contra a profanação do território saudita pelos militares ocidentais. O corte com os Irmãos Muçulmanos consuma-se e, quando ocorrem as Primaveras árabes, por eles inspiradas, as autoridades de Riade tudo fazem para as fracassar.
Há, porém, um retrocesso em 2015, com a chegada de Salmane à liderança do reino, logo traduzida numa reaproximação aos grupos islamitas mais radicais. Mas sem que isso inclua o Daesh, considerado particularmente perigoso para a sua sobrevivência, ao vê-lo rivalizar na criação de uma única entidade política e religiosa à frente de um território bem definido.
Entre os sauditas e o Daesh existe uma competição não declarada sobre qual deles demonstra maior respeito pela ortodoxia. Não admira que, a partir de 2011, e sobretudo desde 2013, as autoridades sauditas tenham aplicado a sharia com maior severidade, o que significou castigos corporais em espaço público com maior frequência e um crescimento abrupto do número de execuções capitais.
O intelectual Kamel Daoud defende a tese de existir um pai e uma mãe bem definidos para o Daesh: o wahabismo saudita e a invasão iraquiana respetivamente.
Se objetivamente a Arábia Saudita não é a criadora do jiadismo, preparou-lhe o terreno para que se expandisse o conservadorismo político-religioso, que tem crescido no mundo muçulmano.
Os jiadistas do Daesh encontram no wahabismo a legitimação das suas ações e ambições, nomeadamente no que ele significou entre 1740 e 1969, quando morreu o mufti Mohammed Ibn Ibrahim. Após essa data olha, para a evolução do wahabismo como implicando o inaceitável compromisso com o Ocidente. Daí o desejo do estabelecimento do Califado, que implique a definitiva submissão da política à lógica religiosa...
Sem comentários:
Enviar um comentário